segunda-feira, 2 de março de 2009

Capitulo VI

Lehvinia mostrava-se visivelmente cansada, e de certa forma, até aliviada por finalmente ter conseguido encontrar a morada do Capitão Mark. Ela vestia um quimono bege claro feito da mais pura seda já produzida pelos artesões daquele continente, e com inúmeros bordados em tons de azul ornamentando as faixas que caíam de sua cintura. Seu cansaço não tanto físico, mas mental, já que a parte final de sua jornada foi adiantada pelo uso constante de sua habilidade de teleporte, o que diminuiu sensivelmente o tempo da sua viagem até ali. Não queria ter que passar outra noite nas planícies daquele deserto traiçoeiro, e essa decisão acabou custando a Lehvinia boa parte de suas forças. Ela aproximou-se do Capitão e de Vohldrik e deixou-se cair sentada em uma pilha de livro próxima dos dois, que a olhavam com certa surpresa.
- Seja bem vinda, minha jovem. Você parece ter utilizado a maior parte de sua força arcana em uma jornada realmente muito importante, pelo visto. – disse o Capitão Mark calmamente, dirigindo-se a Lehvinia.
- Ela tem realmente uma coragem incrível para desafiar esse imenso deserto até aqui. – comentou Vohldrik.
Lehvinia buscou recuperar um pouco seu fôlego, enquanto tentava recompor-se para poder finalmente dizer algo.
- Capitão Mark? – perguntou a jovem maga de forma sucinta.
- Eu mesmo, em pessoa.
Lehvinia abriu seu pequeno alforje, e enquanto remexia nele, tirou de dentro um pequeno diário, que estava entre seus dois orbes de citrino, e o estendeu para o Capitão.
- Estou aqui em missão a pedido do instrutor Gette, do Condado central do Deserto da Lamentação. Eu estava levando este diário para ele como uma das pistas encontradas em um dos locais onde um grupo de investigação desapareceu no Continente Pastur, e ele então havia me entregado uma mensagem sua dizendo que você aguardava minha chegada neste continente, bem como o material que eu estava trazendo.
- De fato, minha jovem, de certa forma eu já a aguardava há algum tempo, e sabia que você viria. – disse o Capitão, enquanto pegava o diário das mãos de Lehvinia.
Vohldrik, dessa vez, olhou surpreso para o Capitão, e entendeu consigo mesmo que, dessa vez, aquele velho misterioso deixara escapar um lampejo seu de premonição. Mesmo assim, permaneceu calado, apesar da expressão de espanto continuar em seu rosto.
- Gette ficou surpreso quando eu disse meu nome a ele, pois ele ficou impressionado com a mensagem escrita que você havia deixado com ele, uma mensagem endereçada a mim.
- Não vamos nos ater a esse pequenos detalhes do destino no momento. Creio que o que você me trouxe agora seja mais importante, pois as informações contidas nele talvez possam confirmar algumas das hipóteses ainda em aberto em minhas pesquisas a respeito dos desaparecimentos por toda Nevareth.
- Você é algum tipo de Adivinho? Um velho sábio? Um mestre solitário? – perguntou Lehvinia sem conseguir conter sua curiosidade, com um olhar atento em direção ao Capitão, que voltou-se para ela e soltou um leve sorriso.
- Isso é típico de vocês, magos. Sempre curiosos, sempre sedentos de saber, de conhecimento. Agora, se me dão licença, irei examinar esse pequeno diário.
O Capitão Mark deus as costas aos dois jovens e se dirigiu para a mesa onde estava antes da chegada de Vohldrik, sentando-se na imponente cadeira, enquanto sussurrava algumas frases para si mesmo, deixando-se ficar absorto em suas pesquisas durante um bom tempo. Enquanto isso, Lehvinia, que ainda permanecia sentada na pilha de livros, ajeitava seus longos cabelos loiros e agora voltava sua atenção para Vohldrik, que começava a se sentir meio incomodado com o olhar demoradamente observador daquela maga para ele. Parecia que ela o estava examinando em seus mínimos detalhes. Então ela soltou uma pergunta para ele, iniciando a conversa.
- Você não é um pouco pequeno para ser um Guerreiro? Não que eu ache errado, mas é que eu realmente nunca vi um guerreiro de seu tamanho carregando uma montante que fosse maior do que ele.
- Você não é a primeira pessoa neste continente que me faz essa pergunta, por isso eu nem ligo mais para esse tipo de indagação. – respondeu Vohldrik, mostrando certa indiferença.
- Então você não é daqui de Huan?
- Não. Eu vim das terras geladas de Midreth faz alguns meses.
- Espero que você não tenha se chateado com minha pergunta. Apenas fiquei curiosa ao ver alguém tão pequeno carregando uma montante tão imponente.
- Não se preocupe. Em minha terra, eu tenho o respeito de meu povo, apesar dos estudiosos de lá considerarem ainda um enorme mistério todo esse potencial de força que tenho.
Lehvinia, num ímpeto maior de curiosidade, levantou-se de onde estava, e caminhou em direção a Vohldrik. Parou diante dele, observando sua estatura, enquanto olhava um pouco desajeitada para os próprios ombros. Somente nesse momento, ela conseguiu obter uma real dimensão do tamanho do Jovem Guerreiro em relação ao seu. Observou com extrema atenção, como que medindo de maneira imaginária, para depois soltar um sorriso com ar revelador.
- Você é oito dedos mais baixo do que eu. Incrível!
- Tamanho não quer dizer nada. – disse Vohldrik, afastando-se um pouco para trás, mostrando-se levemente contrariado pelo que Lehvinia acabara de fazer.
- Ah, desculpe. Eu não quis deixar você embaraçado. – disse Lehvinia, ainda sorrindo.
- Eu não estou contrariado. – retrucou Vohldrik, com leve rispidez, cruzando os braços.
- É que você pode ter compreendido mal minhas palavras. Não era minha intenção mostrar que você é mais baixo do que eu.
Vohldrik permaneceu imóvel, apesar de desta vez ter soltado um olhar de soslaio para Lehvinia, deixando mostrar que realmente estava incomodado com aquela situação. A sorridente maga procurou contornar a situação que havia se formado, e então mudou de assunto, tentando amenizar a conversa.
- Eu me chamo Lehvinia, e sou daqui mesmo do Continente. E você, qual o seu nome?
- Vohldrik. – disse o jovem, de maneira sucinta.
Lehvinia voltou e sentou-se novamente na pilha de livros. Abriu mais uma vez seu alforje, e tirou de dentro pequenos bolinhos brancos enrolados em folhas verdes. Aquela jornada havia deixado ela faminta.
- Quer um? São bolinhos de papaniço, tenho bastante. Uma delícia.
Vohldrik aceitou um, pois não comia fazia algumas horas. Enquanto desenrolava aquele bolinho redondo e fofo, tomou a iniciativa de perguntar a Lehvinia o que ela havia trazido de tão importante para o Capitão Mark.
- É o diário de um dos guardas que fazia parte do grupo de investigação e resgate aos desaparecidos no Continente de Pastur. Parece que ali há relatos mais detalhados de tudo o que ocorreu momentos antes do grupo ter desaparecido no meio da Selva Vermelha, na Floresta do Desespero.
- Quem encontrou esse diário?
- Eu e meu grupo de busca. Seguimos alguns rastros e pistas por dentro da selva, até chegarmos ao local do acampamento. Estava tudo abandonado, e parece que o grupo que estava no local havia sofrido um ataque repentino.
- Houve confronto direto? – indagou Vohldrik.
- Não se sabe ao certo, mas parece ter ocorrido um confronto sim. E tudo o que conseguimos encontrar no local foi esse diário. Estava meio enterrado em um lamaçal vermelho, como se o dono dele estivesse tentando esconder para que não encontrassem com ele.
- Você chegou a ler o que tinha no diário?
- Não me atrevi a ler. Os Oficiais do condado preferiram que o conteúdo dele fosse investigado e desvendado por uma alguma autoridade superior. E então acabei sendo conduzida até o Capitão Mark. – Lehvinia olhou para o lugar onde o Capitão permanecia sentado, ensimesmado em sua pesquisa iluminada por dezenas de velas em candelabros. – Misterioso ele, não acha?
- Um pouco. Sendo um especialista em monstros, às vezes ele parece mais um adivinho. Estranho isso.
- Concordo com você – disse Lehvinia sorrindo, enquanto comia mais um bolinho de papaniço.
Agora mais descansada e relaxada, Lehvinia não trazia mais em seu semblante aquela expressão de quando havia chegado. Vohldrik, entre um olhar e outro, percebia agora nela algo de serenidade e plenitude mansa, como se agora ela fosse a calmaria em pessoa, depois de haver atravessado uma tempestade de sensações e emoções momentâneas. Havia chegado ofegante, um pouco nervosa, mostrando certo cansaço, mas agora parecia ter renovado suas forças, e recuperado seu equilíbrio interior. Vohldrik achava interessante o rosto dela, já que seus olhos pareciam sempre sorrir juntos com seus lábios. Permaneceram ainda ali um bom tempo até que finalmente o Capitão Mark levantou-se de onde estava, indo na direção do dois.
- Vocês sabiam que os troglos das selvas vermelhas gostam de coisas brilhantes? E que é justamente por isso eles sempre acumulam objetos brilhantes em suas tocas?
Lehvinia e Vohldrik entreolharam-se, sem entender o motivo daquela explicação repentina.
- Os objetos que eles acabam guardando podem ser os mais variados, desde cacos de vidro, até ouro derrubado pelos viajantes, e até mesmo armas de guerreiros, orbes, cristais. Extremamente interessante isso, não acham? – perguntou o Capitão de maneira despretensiosa.
- Engraçado isso. Eu não sabia – respondeu Lehvinia sorrindo.
- Foi isso o que o senhor descobriu lendo aquele diário?
- Ah, não, meu jovem. Isso é outro passatempo meu, uma espécie de exercício mental que faço enquanto começo a me concentrar naquilo no qual estou realmente pesquisando.
- Isso, além de conversar sozinho. – sussurrou Vohldrik ao ouvido de Lehvinia, sem que o capitão percebesse.
- Quanto ao conteúdo do diário, ele apenas confirma minhas suspeitas. Em breve, o caos vai se instalar por toda Nevareth, e o sangue dos verdadeiros heróis será chamado a enfrentar esse caos. – o Capitão Mark olhou fixo para os dois jovens à sua frente e começou a falar de maneira enigmática – Muitos heróis acumularão batalhas e conquistas, desafios e perigos, e suas estrelas farão brilhar cada vez seus caminhos. Fiquem atentos às suas estrelas, pois o futuro de vocês pode acabar se cruzando com o futuro de toda Nevareth.

3 comentários:

  1. quimono de seda com teleporte? LOL

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  2. hm... o irmão masi velho encontra uma duelista e o amsi novo uma maga... seria isso o inicio de um romance? gostei do capitulo, quando eu ler o proximo eu comento, mas agora vou jogar cabal , ler isso me deu uma imensa vontade de criar um personagem novo , rsrs.

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