sábado, 23 de maio de 2009

Capitulo XII

Enquanto observava atentamente aquele zumbi desaparecer por completo diante de si, Mehldrik protegia-se com seu escudo astral das cinzas que se dissipavam diante de seus olhos. Antes que pudesse raciocinar direito sobre o que realmente havia atingido aquele zumbi, uma sequência rápida de flechas das sombras foi disparada contra a horda perigosa que continuava rastejando em sua direção. Um a um, vários zumbis à sua frente foram aniquilados completamente, virando cinzas no ar. Mehldrik olhou na direção de onde as flechas estavam sendo lançadas, e viu, em meio às árvores, a silhueta de uma pessoa que empunhava um arco astral.
- Mas quem está disparando essas flechas sombrias? – perguntou Vohldrik, surpreso, enquanto observava os zumbis desaparecerem bem diante de seus olhos.
- Não tenho certeza, mas acabei de ver um arqueiro entre as árvores. – respondeu Mehldrik.
- Você consegue enxergar quem é, Mehldrik? – perguntou Lehvinia.
- Não, o local de onde ele está atirando está meio escuro. Só consigo ver uma silhueta na penumbra. E ele continua atirando.
- Não sei se vocês perceberam, mas tem mais zumbis vindo ao nosso encontro. São muitos, acho melhor a gente conversar menos e agirmos de uma vez. – Hevelin estava realmente impaciente para se livrar daquela horda de zumbis. Eles estavam aparecendo em um número cada vez mais crescente. Quando Hevelin estava partindo para cima de um grupo de zumbis à sua frente, alguém repentinamente saltou em sua frente, de forma ágil e com movimentos rápidos começou a atacar os zumbis. Todos se voltaram meio assustados para aquela nova aparição, dando saltos e piruetas de maneira incrivelmente precisos. E pela maneira como empunhava sua espada em uma de suas mãos, tendo a outra equipada com um cristal astral, tratava-se de um Espadachim Arcano. Assim como o arqueiro, ele escondia o rosto sob um capuz, dificultando sua identificação naquele instante.
- Acho que vocês estão realmente no lugar errado. – disse o Espadachim, sem olhar para trás.
- Mas o que é isso? – disse Hevelin, dando um passo para trás, meio contrariada por ter sido atrapalhada em sua investida contra os zumbis.
- Um Espadachim arcano – respondeu Lehvinia com um sorriso.
- Eu sei que é um espadachim arcano! – retrucou Hevelin, nervosa – Eu quero saber de onde ele surgiu e o que ele está fazendo aqui.
- Eu não sei quanto a vocês, mas acho melhor dar uma ajuda a eles. – disse Vohldrik, enquanto levantava sua montante e partia para cima dos zumbis.
Mehldrik concordou com as palavras do irmão, e então decidiram atacar. Havia muitos grupos de zumbis aparecendo por toda parte, e eles se dividiram para acabar com as hordas que se arrastavam perigosos na direção do grupo. Vohldrik potencializou toda a sua força utilizando o golpe da Condenação Espiral, um ataque mortal rodopiando sua montante em espiral, acertando todos os inimigos em seu redor. Entretanto, um ou dois zumbis não eram atingidos, o que fazia com que Vohldrik utilizasse outro golpe conhecido como Queda Livre, dando um salto giratório no ar e na descida, cravando a montante no chão para em seguida acertar mortalmente o oponente de frente. Perto do jovem guerreiro, Lehvinia tentava manter aqueles seres sinistros distantes, lançados diversos projéteis em sequência contra eles. Utilizando um orbe em cada mão que potencializa de maneira concentrada sua força arcana, Lehvinia canalizava suas técnicas de magia, soltando-as ora com as duas mãos, ora com apenas uma delas. Dessa forma, ela lançava projéteis de gelo e fogo em lances alternados, derrubando diversos zumbis que vinham ao seu encontro. Para se proteger, em determinados momentos, aplicava em si mesma uma aura astral de defesa. Enquanto Lehvinia mantinha aqueles monstros longe de seu alcance, Mehldrik desferia seus golpes circulares com sua katana, para em seguida desferir também seus projéteis relâmpagos mortais de seu escudo astral contra os zumbis. Já Hevelin não perdeu tempo em projetar-se em sua espiral fantasma juntamente com sua técnica do Corte da Lua Gêmea, finalizando com seus dois golpes cruzados com suas katanas. Dessa forma, pouco a pouco as hordas de perigosos zumbis estavam sendo dizimadas pelos jovens guerreiros através de suas diversas forças arcanas. Entretanto, o espadachim arcano e o arqueiro estavam atacando os zumbis de uma forma diferente, como se não quisessem que eles sumissem em cinzas por completo. Empunhando apenas sua espada, o espadachim demonstrava total precisão em seus ataques. Em alguns momentos, ele simplesmente parava, e passava sua mão equipada com o cristal na lâmina de sua espada, concentrando dessa forma força arcana mágica na mesma. Hevelin, ofegante pela sequência de golpes desferidos, resguardou-se em uma pausa para respirar, e nesse meio tempo conseguiu ver o espadachim misterioso invocando as chamadas técnicas mágicas de espada, onde ele reunia as técnicas de magia e de espada em golpes únicos e precisos, causando assim maior dano aos inimigos. Partia para cima dos zumbis utilizando a técnica da Dança da Ruína, saltando em direção ao inimigo, atacando com incrível força e precisão de golpe. Movimentando-se de forma quase instantânea, partia para outros oponentes, atacando-os enquanto deslizava velozmente pelo espaço, parecendo teleportar-se no ar, num outro golpe conhecido como Assalto Astral. O arqueiro permanecia distanciado, ajudando-o, concentrado em suas rajadas de flechas sombrias, como que preocupado em não estraçalhar completamente os corpos desfigurados dos zumbis.
Em determinado momento, ouviu-se pela primeira vez a voz do espadachim, em tom de ordem, gritando na direção do arqueiro. Todos os outros, enquanto lutavam, espantaram-se com aquele grito repentino.
- Não atire! Não atire! Ele é o último! Vou tentar pegar dele – gritava o espadachim para o arqueiro, que nesse momento parou de lançar suas flechas astrais. Melhdrik e os demais ficaram sem entender exatamente o que aqueles dois estranhos estavam tentando fazer. Haviam derrubado todos os zumbis, e restava apenas aquele, diante do espadachim imóvel em posição de ataque. Então, tão veloz quando antes, deslizou na direção daquela monstruosidade, desferindo um golpe único de sua espada no crânio semi esfacelado do zumbi, porém mantendo-o seguro pela lâmina, por onde, lentamente, começou a descer um filete de sangue. Agilmente, com a outra mão livre, o espadachim puxou de um pequeno alforje preso em sua cintura um minúsculo frasco transparente, com o qual coletou uma pequena amostra do sangue daquela criatura sinistra. Assim que o frasco encheu-se daquele líquido viscoso de cor avermelhada, ele o fechou e guardou novamente no alforje. O corpo daquele zumbi, que permanecia suspenso pela espada cravada em seu crânio, se contorcia em espasmos, quando o espadachim novamente soltou uma nova ordem para o arqueiro.
- Agora! Atire! – ordenou.
O arqueiro soltou um disparo sombrio, e a flecha foi certeira no alvo, aniquilando completamente o último zumbi, até sobrarem apenas cinzas esvoaçantes ao redor do espadachim. Após se livrarem de toda aquela horda de seres horrendos, Mehldrik, Vohldrik, Hevelin e Lehvinia se aproximaram do espadachim, buscando saber o que realmente eles estavam fazendo ali.
- Estamos agradecidos por nos ajudar com aqueles zumbis – disse Mehldrik, dirigindo-se ao Espadachim, que virou-se para eles, tirando enfim o capuz que cobria sua cabeça. Era um jovem de pele morena e de olhos negros, assim como seus cabelos. De estatura mediana e magro, tinha uma desenvoltura física esbelta, que havia sido demonstrada pelos seus gestos e movimentos flexíveis durante o combate com os zumbis. Seu nome era Drakonyh.
- Não precisa agradecer. Não estávamos ajudando vocês. – respondeu com um sorriso no canto da boca, enquanto limpava sua espada suja com resquícios de sangue dos zumbis. Todos fizeram certo ar de espanto com aquela resposta. Em princípio, não compreenderam aquelas palavras ditas por Drakonyh, que ao perceber o leve incômodo causado pela sua resposta, procurou remediar a situação. – Olha, desculpe a franqueza, mas realmente eu e minha amiga já estávamos aqui pelas redondezas quando vocês apareceram.
- Amiga? – perguntou Vohldrik meio em tom de surpresa. – Então quem estava atirando aquelas flechas sombrias era uma garota?
- Exatamente. – respondeu uma voz feminina. Era a arqueira, amiga de Drakonyh, aproximando-se do grupo. Saiu de trás das árvores onde estava, descendo uma pequena trilha na neve até onde todos se reuniram. Ainda segurando seu arco astral invocado antes da batalha, retirou o capuz da cabeça com uma das mãos, revelando seus lindos e ondulados cabelos ruivos, de um vermelho vivo e intenso e um sorriso enigmático e cativante, e não demorou-se em fazer as apresentações. – Eu sou Amarantys, do condado de Areshand, e este é meu amigo Drakonyh, de Spine. Somos do Continente de Pastur.
Enquanto todos se apresentavam amigavelmente, Drakonyh terminava de limpar cuidadosamente sua espada, para em seguida procurar novamente pelo conteúdo guardado no minúsculo frasco transparente que estava em seu alforje. Assim que todos terminaram de se apresentar, Drakonyh decidiu então explicar realmente o que eles faziam ali por aquelas terras do Clã dos Mortos-Vivos.
- Como eu havia dito, nós já estávamos aqui pelas redondezas dessa área antes de vocês aparecerem.
- Mas o que exatamente vocês fazem aqui por estas terras? – perguntou Mehldrik, ainda intrigado.
- Estamos caçando zumbis. – respondeu Amarantys.
- Caçando zumbis? – Lehvinia ficou intrigada com aquela resposta. – Mas qual o objetivo de vocês em caçarem zumbis?
- Estávamos atrás disso aqui. – Drakonyh mostrou o pequeno frasco transparente contendo uma amostra de sangue do zumbi. Examinava o minúsculo recipiente apoiado levemente em seus dedos bem próximo aos seus olhos. – Esse é o motivo real de estarmos aqui nesse fim de mundo sinistro.
- Desculpe, mas ainda não estou realmente entendendo. – insistiu dessa vez Hevelin, que não estava gostando muito daquele sorriso estampado no rosto de Drakonyh. Ela realmente não simpatizou com aquele espadachim arcano. – Vocês vieram aqui atrás de sangue de zumbi?
- Na verdade, não somos nós que estamos atrás desse sangue de zumbi. Eu e Drakonyh estamos aqui em missão, a pedido do Instrutor O’Conner, do condado principal de Tundra Infame.
- O’Conner enviou vocês em uma missão? – indagou Vohldrik – Mas porque coletar sangue de zumbis?
- De acordo com as explicações dadas por O’Conner, esses monstros do Clã dos Mortos-Vivos que vagam por cemitérios e outras áreas isoladas das montanhas de Tundra Infame se tornaram mais violentos nos últimos tempos. Além disso, a quantidade deles tem aumentado de maneira estranha, e eles têm invadido os limites das colônias da região. – enquanto conversava com todos, Amarantys levantou a mão que segurava seu arco astral, concentrou-se rapidamente, e em seguida seu arco retraiu-se até tornar-se um pequeno cristal de duas pontas preso em seu punho. – Com isso, os incidentes com os moradores ficaram mais freqüentes.
- De fato, isso tem ocorrido muito ultimamente, os zumbis começaram a aparecer em lugares onde antes eles nem sequer pisavam. – comentou Mehldrik.
- Justamente por causa desse comportamento anormal que esses monstros vêm demostrando é que O’Conner solicitou nossa ajuda para que capturássemos um zumbi e assim coletarmos uma amostra de seu sangue para que ele possa ser examinado pelos especialistas do condado. – Drakonyh complementou a explicação de Amarantys, e novamente guardou o pequenino frasco com a amostra em seu alforje. – Agora que já cumprimos nossa missão, devemos retornar para o Condado para entregar a amostra que conseguimos.
Mal terminou sua frase, e Drakonyh sentiu um vento gelado começar a soprar atrás de si. Olhou para o alto e percebeu que começava a nevar. Além disso, estava começando a anoitecer, e a luz diurna começava a sumir gradativamente, dando lugar a uma penumbra cada vez mais escura. Estreitou o olhar e balançou a cabeça negativamente. Assim como Mehldrik, Drakonyh também não gostava muito daquele clima frio e daquelas nevascas que pareciam nunca terminar por aquelas montanhas geladas. Olhou para Amarantys com uma expressão desolada.
- Já sei, não precisa me dizer nada. Vamos tratar de procurar um abrigo e passar a noite. Mas amanhã cedinho quero sair dessas montanhas de neve. Não agüento mais ver tanta neve ao meu redor. – Drakonyh virou-se, levantou o capuz sobre sua cabeça e saiu andando, resmungando sozinho. – Que lugar sinistro, só faz nevar, nevar. Desde que cheguei aqui nesse continente, ainda não vi um dia ensolarado sequer.
- Não se preocupem com ele. – disse Amarantys sorrindo – Drakonys costuma resmungar um pouco além da conta, mas ele não é assim o tempo todo. A propósito, o que vocês fazem aqui por essas terras? Eu estava curiosa em saber, e assim que os vi, imaginei que vocês também estivessem caçando zumbis para coletar amostras de sangue.
- Não estamos caçando zumbis. – respondeu Mehldrik – Antes de encontrar aquela horda de monstros, estávamos seguindo o rastro deixado por alguém.
- Mas eu acredito que agora já não encontraremos mais ninguém, Mehldrik – disse Lehvinia – Com essa neve começando a cair, não demora muito e o rastro deixado por Skaild terá sumido.
Mehldrik afastou-se um pouco do grupo, e caminhou olhando para o chão, procurando vestígios do rastro que estavam seguindo. Agachou-se e apalpou a neve levemente, pegando um punhado em sua mão, enquanto ponderava sobre o que realmente deveriam fazer. Caso decidissem não mais seguir os rastros de Skaild, Mehldrik tinha a perfeita noção de que estaria perdendo a oportunidade única de elucidar parte do mistério dos desaparecimentos em Nevareth, e isso significava que o desaparecimento de seus pais continuaria também parte de todo esse mistério. Ao chegar a essa conclusão, Mehldrik sentiu um aperto gelado no coração. Fechou o punho, esmagando o pouco de neve que tinha na mão.
- De fato, você tem razão, Lehvinia. Essa neve caindo já deve estar encobrindo os rastros deixado por Skaild.
- Acho melhor então voltarmos para o condado. – disse Hevelin – Precisamos informar aos Oficiais do Condado tudo o que descobrimos naquela mina, inclusive a respeito de Skaild.
- E eu e Lehvinia devemos retornar também ao encontro do Capitão Mark, para relatarmos todo o ocorrido aqui. – complementou Vohldrik.
- Já que vocês estão retornando, podemos voltar juntos – sugeriu Amarantys – Seria até mais seguro para todos, já que estamos ainda em uma região perigosa e não sabemos se encontraremos mais zumbis ou não.
Todos concordaram com a idéia de Amarantys, seguindo o caminho de volta para o Condado Principal de Tundra Infame. Já havia anoitecido e a nevasca tornara-se mais intensa, quando finalmente encontraram um abrigo em uma pequena gruta na encosta de uma montanha.