terça-feira, 17 de março de 2009

Capitulo XI

O breu que envolvia Mehldrik e Hevelin naquela pequena reentrância na rocha soterrada pela avalanche era uma escuridão angustiante e sufocante. Era preciso sair dali logo antes que eles acabassem ficando sem ar. Mehldrik invocou novamente seu escudo astral, já que na fuga desesperada ele o tinha recolhido e guardado em seu alforje. Agora o brilho do escudo iluminava fracamente o interior da minúscula gruta onde estavam. Pedia a Hevelin que se afastasse um pouco.
- O que você pretende fazer? – perguntou a duelista, ainda ofegante.
- Vou tentar tirar a gente daqui antes que a gente sufoque.
- Você está maluco? – questionou Hevelin nervosa. – Estamos soterrados, e você quer nos enterrar mais ainda?
- Hevelin, eu sei dos riscos, mas temos que sair desse buraco de algum jeito!
- E você acha que essa é a melhor maneira, por acaso? – retrucou a Duelista.
- Você tem alguma idéia melhor no momento? – Mehldrik encarou Hevelin fixamente nos olhos por alguns momentos. O tom de voz do guardião era desafiador. – Não se preocupe, tomarei cuidado para não cometer algum erro que acabe com nossas vidas aqui.
Mehldrik mirou o escudo em direção à entrada soterrada e soltou um projétil de fogo. Parecia estar dando certo, pois a neve acumulada estava se afastando, abrindo espaço para uma possível saída. O Guardião tomou cuidado em não soltar projéteis com muito poder, para não provocar novos deslizamentos e soterrá-lo ainda mais debaixo de novas camadas de neve. Soltou mais dois projéteis de fogo em intervalos regulares de tempo, e ao ver finalmente um fio de claridade adentrar um minúsculo buraco no meio daquela neve toda, ele decidiu soltar um último projétil mais forte, cujo poder de fogo acabou provocando um rombo, abrindo caminho finalmente para fora daquela pequena gruta. Conseguiram sair e olharam ao redor, começando a ter uma visão total de todo o estrago provocado pela avalanche que desceu pela montanha. Hevelin acabou sentando na neve fofa, enquanto Mehldrik observava silencioso por alguns instantes toda a área que estava soterrada.
- Você tomou uma atitude muito arriscada. A gente poderia não estar vivo agora, caso desse errado. – disse Hevelin, meio contrariada.
- Era um risco que corríamos. Ou isso, ou morreríamos sufocados lá dentro.
Mehldrik permanecia investigando os locais próximos da avalanche, tentando encontrar possível sinal da presença de Skaild pelas redondezas.
- Será que Skaild conseguiu se salvar? – perguntou Hevelin.
- Eu espero que sim. Do contrário, tudo o que fizemos aqui terá sido em vão. – respondeu Mehldrik, enquanto via a nevasca cessando gradualmente. – Precisamos encontrá-lo e levá-lo para o Condado Principal.
- E se ele conseguiu escapar da avalanche?
- Se conseguiu, com certeza não deve estar muito longe. Podemos alcançá-lo e acompanhá-lo até o condado.
- Você acredita que ele possa estar mesmo retornando para o Condado, como você o orientou a fazer, caso escapasse?
- Não tenho certeza que ele retorne sozinho. Por isso devemos encontrar ele e acompanhá-lo até o Condado.
Após dizer isso, Mehldrik observou movimentação em uma parte não muito distante da montanha, do local onde estavam. Ficou intrigado e chamou Hevelin para mostrar o que estava vendo.
- Consegue ver ali? Naquela parte da montanha.
- Acho que sim... Parece ser duas pessoas, e estão se movendo com certa rapidez, eu diria até.
- Eu também percebi isso. Um deles parece estar utilizando técnicas de teleporte para se deslocar.
- Se isso for verdade, então creio que deva ser um Mago. O outro não se desloca por teleporte, mas se move também de maneira ágil pelo caminho. Pelo estilo e desenvoltura, parece ser um guardião, ou um guerreiro. Não tenho certeza.
- Creio que estão vindo em nossa direção. – disse Mehldrik
- Serão membros da Guilda dos Ladrões e estão nos procurando?
- Não parecem bandidos... E acho que já nos viram.
Mehldrik e Hevelin ficaram apenas observando enquanto as duas pessoas se aproximavam rapidamente do local onde estavam. A primeira a chegar foi Lehvinia, que parou diante de Mehldrik, que permanecia imóvel aguardando o primeiro contato, que não demorou muito.
- Olá, eu me chamo Lehvinia. – disse a maga, de maneira contida e diplomática. – Estamos procurando por alguns guerreiros que foram soterrados na avalanche.
- Então você acaba de nos encontrar. Eu sou Mehldrik e esta é minha amiga Hevelin. Estávamos em uma missão importante e...
- Espere um instante – interrompeu Lehvinia, com ar de surpresa em seu rosto. – Você disse que seu nome é Mehldrik?
- Isso mesmo. Por quê? – questionou o guardião, curioso.
- Lehvinia perguntou porque ela já ouviu falar de você, e muito bem. – respondeu Vohldrik, que tinha acabado de chegar a tempo de ouvir parte da conversa. Estava parado ao lado de uma pedra, com um sorriso no rosto e feliz por reencontrar o irmão naquele momento.
- Vohldrik! – o guardião ficou surpreso, para logo em seguida sorrir.
Abraçaram-se de maneira saudosa sob os olhares atentos de Lehvinia e Hevelin, e trocaram palavras rápidas a respeito das aventuras que tiveram, do que fizeram e por onde andaram. Tinham muito que contar um ao outro, mas naquele momento Vohldrik estava mais interessado em saber como e porquê seu irmão se envolveu naquela situação toda.
- Eu e Hevelin nos conhecemos recentemente e estávamos em missões distintas, mas resolvemos nos unir, pois chegamos à conclusão de o nosso destino era o mesmo. – explicava Mehldrik – Conseguimos localizar o esconderijo da Guilda dos Ladrões aqui nessa montanha, e depois de resgatarmos uma pessoa, procuramos fugir o mais rápido possível.
- Mas e a avalanche? – perguntou Lehvinia, apesar de já saber parte da história contada por Skaild.
- A avalanche foi provocada por Mehldrik. – respondeu prontamente Hevelin – Os ladrões estavam atrás da gente, e logo encontramos uma matilha enorme de lobos zumbis. Então Mehldrik teve a idéia de provocar o desmoronamento.
- Mas espere um instante? – Mehldrik teve um lampejo de dúvida - Como vocês souberam que nós poderíamos estar soterrados aqui na neve?
- Skaild, a pessoa que vocês resgataram que nos contou. – disse Vohldrik.
- Vocês encontraram Skaild? – questionou o guardião com certo espanto.
- Sim, nós o encontramos momentos antes de ser enterrado pela avalanche, e o tiramos debaixo da neve. Eu ministrei cura nele, e assim ele pôde nos contar o que havia acontecido e nos falou de vocês dois.
- E onde ele está?
- Ele seguiu o caminho para o Condado Principal, disse que precisava chegar lá o quanto antes, pois não queria ser pego novamente pela Guilda. – explicou Vohldrik.
- Precisamos alcançá-lo e escoltá-lo em segurança até o Condado. – explicou Mehldrik, com certa tensão em sua voz.
- Por que toda essa preocupação com relação a Skaild? – perguntou Lehvinia. – Ele não é apenas mais um fugitivo da Guilda?
- Na verdade, não. Ele não é apenas mais um fugitivo... – respondeu Mehldrik vagamente.
- Como assim? – questionou Hevelin, olhando para o guardião e percebendo que ele escondia algo mais a respeito de Skaild. – Você me disse que estava tentando resgatar alguém que estava sendo ameaçado de morte pela Guilda por causa de dívidas. Tem algo mais que você não me contou a respeito de Skaild?
Mehldrik permaneceu em silêncio por alguns momentos, mas logo percebeu que todos o estavam olhando, como que esperando por respostas ou alguma explicação a mais. Então decidiu contar o que sabia a respeito de Skaild. Explicou que tinha aceitado a missão a pedido do amigo Simon, e que este havia lhe contado que muito provavelmente Skaild teria informações que seriam importantes para elucidar parte do mistério do desaparecimento de pessoas que vinham ocorrendo pelos continentes de Nevareth. Após relatar tudo sobre sua missão, todos o olharam com enorme espanto, principalmente Vohldrik, que parecia saber dos verdadeiros motivos que levaram o irmão a aceitar aquela missão perigosa. Por um breve momento, os irmãos se entreolharam e puderam saber exatamente o que cada um pensava a respeito daquela situação toda.
- Quer dizer que Skaild tem informações que podem desvendar todo o mistério dos desaparecimentos? – perguntou Lehvinia, intrigada.
- Segundo as informações que me foram passadas, sim.
- Então isso explica o motivo pelo qual você tinha tanta pressa em encontrar Skaild e o levar de volta em segurança ao Condado. – disse Hevelin, enquanto meditava suas próprias palavras.
- Por isso precisamos alcançá-lo o quanto antes e levarmos ele em segurança de volta ao Condado. Temos que ir.
Mehldrik se preparava para descer a montanha quando Vohldrik parou diante do irmão, que ficou meio assustado com aquela atitude.
- Mehldrik, espera um pouco. Vocês invadiram aquela mina, então você e Hevelin podem nos dizer exatamente se havia um líder presente entre eles? – questionou Vohldrik.
- Líder? De quem você está falando exatamente?
- Estamos falando de Kashu.
- Não posso dar a você certeza dessa informação, mas enquanto invadíamos a mina, não vimos nenhum sinal de Kashu por lá. E acredito que agora seja impossível descobrir se ele estava naquela mina, já que ela está completamente soterrada pela neve. Mas por que você está querendo saber sobre Kashu?
- Viemos aqui a Midreth a pedido do Capitão Mark, para encontrar Kashu. – respondeu Vohldrik.
- O que? – Hevelin estava surpresa com o que acabava de ouvir – O Capitão Mark enviou vocês para encontrar Kashu?
- Sim, ele nos enviou nessa missão em caráter de urgência, e nos indicou justamente uma mina abandonada como possível refúgio secreto de Kashu. – explicou Lehvinia.
- Nesse caso, tanto o Capitão Mark quanto o Oficial Henkoff estavam certos em suas suspeitas com relação ao local onde a Guilda permanecia escondida. – disse Hevelin.
- Se Kashu estava naquela mina ou não, não saberemos. Se ele realmente estava, então ele foi soterrado e enterrado com todos os ladrões que estavam com ele lá. – Mehldrik olhou para o céu, encarando o tempo, pois tinha receio que uma nova nevasca começasse a cair e acabasse apagando qualquer trilha deixada por Skaild. – Precisamos ir antes que uma nova tempestade de neve venha a cair e apague o rastro deixado por Skaild.
- Mehldrik, eu e Lehvinia vamos acompanhar você e Hevelin até as proximidades do Condado de Tundra Infame, e em seguida partiremos para levar as informações que obtivemos aqui até o Capitão Mark.
- Meu irmão, será muito bom ter a sua companhia durante essa jornada, mesmo que por um curto período de tempo. – disse Mehldrik, apoiando a mão no ombro de Vohldrik. Só nesse momento, Lehvinia voltou a observar novamente a baixa estatura de Vohldrik, dessa vez em relação ao seu irmão mais velho. Sorriu singelamente olhando para os dois, enquanto Hevelin a observava, meio sem entender o motivo daquele sorriso.
Desceram pela montanha com extremo cuidado, até o ponto onde o jovem Guerreiro e a Maga haviam encontrado Skaild. Logo encontraram uma pequena trilha de pegadas que começava justamente no local onde haviam se despedido do ex-refém da Guilda dos Ladrões. Apesar dos constantes ventos gelados soprando por todos os lados, aproveitaram o tempo nublado e sem neve caindo para seguir a trilha, antes que ela sumisse completamente. Caminharam durante algumas horas, sempre seguindo os passos de Skaild deixados na neve, até que em determinado ponto Mehldrik parou para examinar mais de perto as pegadas. Olhou ao redor, buscando saber exatamente a direção que aquelas pegadas estavam tomando naquele ponto. Depois de observar durante certo tempo o rumo que estavam indo, acabou concluindo que Skaild não tinha ido em direção ao Condado, como havia prometido a ele.
- Ele mentiu para a gente! – disse Mehldrik, nervoso. – Ele disse que iria para o Condado, mas tomou outro rumo.
- Talvez ele tenha tomado um outro caminho para fugir dos lobos zumbis, ou dos pantrocornes. – sugeriu Hevelin.
- Não acredito que ele estivesse fugindo de matilhas de lobos zumbis. – questionou Lehvinia, enquanto olhava a trilha de pegadas na neve – O padrão é o mesmo desde o início, e não há indícios de que ele estivesse correndo ou fugindo. A distância entre as pegadas é a mesma.
- Não, ele não estava fugindo de nada. Além disso, já estamos consideravelmente longe do caminho que segue para o Condado. – O guardião caminhou um pouco e apontou uma direção – O Condado fica naquela direção, a nordeste, e nós estamos caminhando para o noroeste, nesta direção. Skaild tomou este rumo propositadamente.
- Mas para onde Skaild pode ter ido, então? – perguntou Vohldrik.
- É o que iremos descobrir seguindo a trilha deixada por ele. Precisamos nos apressar, antes que anoiteça.
Os quatro jovens continuaram seguindo aquela trilha que seguia agora para noroeste. Começava a entardecer, e logo seria noite. Continuaram a jornada, e depois de ouvirem alguns lobos uivando ao longe, passaram pela entrada de uma outra mina abandonada. Havia muitas minas abandonadas espalhadas não apenas nas Montanhas de Vahour, mas em diversas outras montanhas. Muitas dessas minas foram totalmente abandonadas depois que os Zumbis, monstros pertencentes ao Clã dos Mortos-Vivos que vivem isolados em determinadas áreas das montanhas de Tundra Infame, começaram a invadir os locais e ameaçar os trabalhadores. Muitos temiam serem capturados e transformados em zumbis, e então largavam tudo e voltavam para o Condado. As autoridades locais viam o Clã dos Mortos-Vivos como um verdadeiro estorvo para o desenvolvimento econômico da região, e não mediam esforços em repelir e isolar cada vez mais os zumbis para regiões cada vez mais distantes dos condados e das comunidades. E parece que Mehldrik, Vohldrik, Lehvinia e Hevelin estavam caminhando justamente em direção a essas áreas isoladas. Ainda seguindo a trilha deixada por Skaild, depois de terem passado pela mina abandonada, atravessaram um largo portal de pedra em arco. Caminhavam cada vez mais para dentro daquela região. Passaram por um cemitério, desviando de diversos túmulos com cruzes esculpidas em pedra branca, e não demorou muito para avistarem pelas redondezas algumas cabanas abandonadas e completamente em ruínas, com buracos no teto, portas e janelas caindo aos pedaços e madeira podre por todo lado. Na verdade, tinham acabado de chegar numa pequena vila abandonada. A trilha deixada por Skaild atravessava aquela vila. Mehldrik seguia na frente do grupo quando parou após ouvir um ruído estranho vindo das redondezas. Pareciam gemidos.
- Eu acho realmente que não estamos sós aqui. – disse Mehldrik, enquanto fazia sinal a todos para permanecerem em silêncio.
- Mas o que Skaild veio fazer realmente aqui neste maldito lugar? – retrucou Hevelin, observando tudo ao redor com certo ar de repugnância.
- Essa é uma boa pergunta que ele deveria nos responder. – observou Lehvinia, enquanto olhava para os lados.
- Mehldrik, você faz idéia de onde nós estamos? – Vohldrik puxou o irmão pelo braço. – Nós estamos dentro das terras do Clã dos Mortos-Vivos! Acho melhor sairmos daqui e continuar seguindo a trilha de Skaild.
- Acho que é um pouco tarde para a gente fazer isso, Vohldrik. – disse Mehldrik, enquanto ouvia os gemidos cada vez mais próximos.
O guardião mal terminou de dizer sua frase, e percebeu que vários zumbis estavam saindo das sombras e começando a cercá-los por todos os lados. Eram muitos, inúmeros, arrastando ao redor e indo ao encontro deles. Estendiam os braços de maneira pavorosa e gemiam sem parar. Alguns tinham membros amputados, fossem partes dos braços, das pernas, mas todos tinham extensas feridas expostas em carne viva em suas peles.
- Acho melhor a gente se preparar para nos defendermos. – Mehldrik tinha a voz tensa. – Não temos outra alternativa.
Vohldrik empunhou sua enorme montante, enquanto Hevelin cruzava suas katanas diante de si. Lehvinia colocou suas orbes e ministrou em si mesma rapidamente uma aura astral de defesa. Mehldrik invocou seu escudo astral, ao mesmo tempo em que empunhava sua katana. Estavam todos preparados para entrar em combate com aquela horda de zumbis que avançavam sedentos de carne e sangue, quando subitamente um disparo sombrio atravessou o ar, como uma flecha pontiaguda, acertando em cheio um dos zumbis. Alguém havia acabado de disparar uma flecha das sombras contra a infeliz criatura, que caiu no chão em agonia pura, envolvida por dezenas de flechas espirituais escuras, consumindo-a por completo até virar pó.

6 comentários:

  1. continua =] ta ótima a historia

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  2. XxShieldMasterxX27 abril, 2009 19:48

    ISSU, CONTINUA AI, TA MASSA.
    OTIMO TRABALHO HEIN, SE CONTINUAR ESCREVENDO ASSIM VAI FIKA FAMOSO LOGO LOGO =). SE LANÇAR O LIVRO EU COMPRO CONCERTEZA.

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  3. ué? vai te continuação naum?
    to todo dia olhando aki, ansioso pra conhecer os novos heróis e até agora nada...
    kero ve a continuação dessa hitoria =], ajuda ai^^

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  4. aweee vai ter continuação ta fera de maisss

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  5. Caramba ta muito bom tem q ter conitinuação

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  6. agora tem um AA na jornada =D

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