segunda-feira, 2 de março de 2009

Capitulo VII

Enquanto o Capitão Mark terminava de proferir sua frase enigmática para Vohldrik e Lehvinia, com um olhar fixo e quase hipnótico, mais alguém adentrava em seus domínios pessoais, dessa vez de maneira mais comedida, porém em passos firmes e com postura mais determinada. Era um dos soldados da Guarda Oficial do condado principal do Deserto da Lamentação. Adentrava de maneira solene, porém com passos ágeis e respeitosos, vestido com sua farda militar em tons de cinza e verde coberto por uma capa que ainda trazia vestígios das areias do deserto. Tinha um pequeno turbante também cinza enfaixado em sua cabeça, turbante este que protegia o seu quepe e cujo pano descia pelo seu pescoço quase que como uma echarpe, levemente escondida pela gola alta de sua farda. Um pequeno óculos de lentes escuras, que mais se assemelhava a um protetor para sua visão, escondia seus olhos de todos. Já era noite quando aquele soldado havia chegado à residência do Capitão Mark com importantes mensagens.
- Capitão Mark, boa noite. – disse o soldado em tom de respeito, enquanto tirava o pequeno óculos de seu rosto.
- Boa noite, meu jovem soldado. Presumo que você tenha mais notícias para me entregar.
- Sim, Capitão. O Oficial Dunhike me enviou com missão de trazer mais notícias importantes para o senhor. – dizia o soldado, enquanto mantinha uma postura ereta e entregava um pergaminho ao Capitão. – Ele me orientou a informá-lo que se trata de informações urgentes vindas do Continente de Midreth.
Ao ouvir isso, Vohldrik sentiu um aperto gelado no seu coração, que o deixou um pouco assustado quanto ao conteúdo daquelas informações. Lehvinia, ao contrário, apesar de ter percebido o olhar meio assustado de Vohldrik, fazia uma cara de confusa e curiosa ao mesmo tempo, pois ela percebia que muitas informações estavam sendo passada entre as diversas autoridades dos continentes e condados de Nevareth, e com certeza aquele soldado trazia mais notícias a respeito dos desaparecimentos misteriosos.
- Presumo que sejam as notícias que eu já esperava realmente. – disse o Capitão, enquanto desenrolava e lia calmamente o pergaminho entregue pelo soldado mensageiro. – E realmente são.
- Capitão, desculpe a intromissão, mas o que diz neste pergaminho? Eu gostaria de saber, já que são notícias importantes vinda de meu continente. – Vohldrik estava apreensivo e queria muito saber o que se passava em sua terra natal.
- De acordo com o que está escrito aqui, a situação parece ter se complicado em Midreth. A conhecida Guilda de Ladrões está no Continente, causando tumulto e confusões por lá. E aqui também diz que o maior porto comercial do Midreth, o Porto de Hebrat foi fechado por medida de segurança, em vista dos excessivos números de roubos que vem ocorrendo por lá, causando enormes prejuízos a todos os comerciantes de diversas cidades que dependem do porto, entre elas o condado principal de Tundra Infame.
- Faz tempo aqueles baderneiros estão em Midreth, capitão. – disse Vohldrik – Eu mesmo já lutei com alguns membros dessa Guilda, que eventualmente aparecem pelos condados, trazendo caos e saqueando diversos comerciantes. Mas quando eu deixei Midreth, o porto ainda estava aberto a todos.
- Creio que a situação em seu continente, Vohldrik, pelas notícias trazidas agora, está piorando. – opinou Lehvinia.
- Era inevitável que toda essa situação se formasse e desencadeasse tais conseqüências. – interrompeu o Capitão Mark – Meus jovens, desde que a Guilda dos Ladrões migrou para as terras geladas de Midreth, uma série de fatos tem preocupado a todas as autoridades. Não faz muito tempo houve um grande alvoroço desde que uma mulher foi nomeada chefe desde a criação dessa Guilda. Entretanto, pouco tempo depois de sua criação, uma espécie de golpe de estado entre eles foi armado. Disseram que o golpe foi planejado pelo homem que era considerado a segunda pessoa no comando, e acreditava que seria a pessoa indicada para a posição. Seu nome é Kashu.
- Kashu? – espantou-se Vohldrik. Ele já ouvira aquele nome algumas vezes, em algumas conversas com Mehldrik. – Meu irmão já me contou a respeito desse homem. Ele me disse que esse Kashu pode ser o principal responsável pelos roubos que estão ocorrendo por lá.
- Sem dúvida, jovem Vohldrik. – concordou o Capitão. – Sem dúvida nenhuma que o principal responsável seja Kashu. Tanto pelo golpe interno que parece estar sendo arquitetado na Guilda quanto os constantes roubos pelo continente. Todos esses acontecimentos estão sendo organizados por ele. E ao que tudo indica, parece que ele quer desestabilizar economicamente a região, ao mesmo tempo em que aplica um golpe de estado interno na Guilda.
- Capitão Mark, o Oficial Dunhike também solicitou remeter de volta suas considerações acerca das notícias pelo senhor recebidas. Ele aguarda pelas suas respostas. – disse o soldado, que ainda permanecia de pé, impassível, atento a tudo o que era dito no momento.
- Não se preocupe, soldado. Formularei minhas considerações para que você as entregue em mãos ao Oficial. Como já anoiteceu, recomendo que você passe a noite aqui, e assim que amanhecer, você pode retornar ao Condado com meus relatos. Por enquanto, pode se retirar e descansar para amanhã seguir viagem de volta.
Dito isso, o soldado consentiu com a sugestão do Capitão e pediu licença a todos os presentes, saindo logo em seguida. Assim que ficaram mais uma vez sozinhos, o Capitão Mark virou-se para Vohldrik e Lehvinia, fazendo uma breve pausa antes de começar a falar, o que causou certo clima de suspense no ar. Tudo indicava que ele tinha algo muito importante para dizer naquele momento.
- Meus jovens, hoje vocês demonstraram determinação e coragem quando abraçaram a missão de chegarem até aqui. Cada um de vocês com suas missões e objetivos, mostraram força, persistência e vontade de alcançar o ponto final de suas jornadas. Eu sinto em vocês uma força cujo potencial pulsa timidamente ainda, mas que já vibra buscando todo seu poder interior.
- O senhor vê isso tudo apenas olhando para a gente? – interrompeu Lehvinia, com certo ar de curiosidade.
- Sim, minha jovem maga. Eu vejo em vocês dois, pois a Força Arcana que pulsa em vocês é visível para mim através de suas auras. E suas estrelas começam a brilhar intensamente através de suas auras.
- Mas por que o senhor está nos dizendo isso agora? Existe algo que o senhor saiba de fato, e que nós não tenhamos conhecimento ainda? – questionou Vohldrik.
- Jovem Vohldrik, apenas relembrando o que eu havia lhe dito assim que você chegou aqui. Não tenho muito que lhes contar, e algumas coisas que sei não me é permitido contar, ainda. O que eu sei no momento e que posso realmente revelar é que vocês não estão aqui por acaso, e que vou designar vocês dois para uma missão importantíssima.
- Missão importantíssima? – Lehvinia perguntou com ar de puro espanto. – Até o momento, Capitão Mark, a missão mais importante a qual fui designada foi trazer o diário até o senhor. O que poderia ser mais importante ainda?
- E por que nós dois, Capitão? – as perguntas de Vohldrik eram mais questionadoras do que as de Lehvinia. – Por que, especificamente, o senhor decidiu por nós dois? O senhor mal nos conhece e não sabe realmente se teremos êxito na missão que deseja nos passar.
- Meu jovem, a missão surgiu depois que avaliei todas as informações que me foram trazidas hoje, tanto o diário entregue por Lehvinia quanto as notícias do soldado mensageiro. E a missão se configura de caráter urgente. E sendo urgente, não tenho realmente tempo de solicitar guerreiros ao Condado principal do Deserto da Lamentação. Por isso, decidi por entregar essa missão a vocês dois. Tenho certeza de que vocês farão o melhor para cumprir seus objetivos. Vocês já me deram prova suficiente do potencial de ambos. Confesso que não sou de receber muitas visitas aqui em meus domínios. Entretanto, estejam cientes de que também não são todos os guerreiros e jovens lutadores que conseguem chegar até aqui. A maioria mesmo sequer consegue encontrar minha morada, e muitos desistem antes da metade do caminho ser alcançado.
- O senhor está nos dizendo que a maioria dos guerreiros não encontra a estrada até aqui?
- Exatamente. O deserto é o maior dos obstáculos, além dos monstros que a habitam por toda a sua extensão. As planícies e os vales traiçoeiros acabam enganando os viajantes, deixando-os confusos, cansados, desanimados, e a maioria desiste ou se perde pelo deserto. Vocês foram corajosos e demonstraram o contrário. Mostraram determinação e empenho em chegar aqui. E isso os habilita plenamente para a missão.
O Capitão Mark virou-se e foi em direção às estantes imensas de livros e pergaminhos. Subiu em uma bancada móvel com rodinhas, e equilibrou-se nos primeiros degraus de uma escada. Parecia estar procurando algo em determinada parte da estante. Havia algumas caixas em meio aos livros e pergaminhos. Por fim, encontrou uma pequena caixa de veludo marrom escuro, e sacudiu um pouco a poeira que havia por cima dela. Desceu da bancada e retornou na direção de Vohldrik e Lehvinia. Pousou a caixa sobre uma mesa, entre livros e candelabros, e chamou os dois. Enquanto o Capitão Mark abria a caixa, ele explicava o conteúdo da mesma.
- Dado o caráter de urgência da missão, a jornada de vocês será para o Continente de Midreth.
- Para Midreth? – espantou-se Vohldrik
- Exatamente. Entretanto, o tempo está contra nós, e não posso realmente aguardar mais do que o necessário até que vocês finalmente cheguem no destino decidido.
- Mas, Capitão Mark, não entendo como poderemos ajudar com essa missão urgente sendo ela em Midreth – disse Lehvinia.
Foi neste momento que o Capitão mostrou para Vohldrik e Lehvinia dois cartões transparentes, do tamanho exato da palma da mão. À primeira vista, pareciam feito de vidro, mas eram extremamente finos e flexíveis, e olhando mais de perto, podia-se conferir todo o mapa de Nevareth gravado levemente como marca d’água. O Capitão entregou os cartões para os dois.
- O que estou entregando a vocês é algo que vai facilitar incrivelmente a viagem, que praticamente será um problema a menos para ambos. São cartões de teletransporte. Com eles, vocês poderão se deslocar com mais rapidez e alcançar regiões mais distantes. Uma vez usado, o cartão não poderá mais ser utilizado por outra pessoa a não ser a primeira pessoa que o utilizou, e também não pode ser transferido para outra pessoa.
- Isso quer dizer que se eu usar este cartão pela primeira vez, mais ninguém poderá utilizar ele a não ser eu mesmo? – perguntou Vohldrik.
- Isso mesmo. E os cartões só podem ser utilizados nos portais que ficam nos arredores das cidades dos principais condados dos diversos continentes.
- Mas eu nunca vi esses cartões antes, e nem ouvi falar desses tais portais. Qual o motivo desse mistério? – indagou Lehvinia, enquanto examinava cuidadosamente o cartão em suas mãos.
- Minha jovem maga, tanto os cartões quando os portais são apenas utilizados por guerreiros previamente selecionados para missões cuja natureza seja de relevante urgência ou de extremo segredo.
- A exemplo de nossa missão. – disse Vohldrik
- Exatamente! – exclamou o Capitão de maneira contida. – Por isso, não revele os cartões a ninguém, mantenha-os em segurança e utilizem as passagens nos portais com o máximo de cuidado, para que as pessoas não os vejam.
- Eu posso contar sobre isso ao meu irmão, Capitão?
- Não. Não revele o cartão para o seu irmão. E não se preocupe com isso no momento. Toda revelação poderá ser feita no seu devido tempo.
- Capitão Mark, e como saberemos para onde estaremos indo ao atravessar o portal?
- Realmente, como saberemos? – Vohldrik reforçou a pergunta de Lehvinia.
- Ao entrar no Portal, vocês estarão diante de diversos outros portais. Alguns deles estarão mostrando símbolos e brasões das principais cidades dos condados nos diversos continentes. Isso facilitará encontrar o destino de vocês.
- O senhor disse alguns deles. E quanto aos portais que não mostrarem símbolo algum?
- Não se preocupem. Esses portais necessitam de outros cartões de acesso. Sem eles, vocês não terão como atravessá-los.
O Capitão Mark fechou a pequena caixa de veludo, e tratou de colocá-la no mesmo lugar onde a havia encontrado. Enquanto descia mais uma vez a bancada móvel, Vohldrik olhou para sua face de maneira questionadora, pois sabia que a pergunta mais importante ainda não havia sido feita.
- Capitão, o senhor ainda não nos disse qual é realmente a nossa missão.
Houve um brevíssimo silêncio naquele momento, enquanto o Capitão olhava seriamente para o jovem guerreiro e a atenta maga, antes de revelar de maneira decidida e curta qual seria a missão dos dois.
- A missão de vocês é encontrar Kashu.

2 comentários:

  1. o que sera que vai acontecer?
    tchan tchan tchan!

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  2. hm... os irmãos vão provavelmente se rencontrar , e é provavel que a maga e a duelista também possam ser conhecidas, visando que ambas são do deserto da lamentação.
    está ficando cada vez mais interessante.

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