segunda-feira, 24 de maio de 2010

Capítulo XX

 Assim como a cidade militarizada localizada no Condado de Tundra Infame, no Continente de Midreth, o núcleo militar que ficava no meio do Deserto da Lamentação, em Huan, era uma cidade privilegiada pela sua localização estratégica, ficando praticamente no topo de um imenso platô no meio do caminho entre duas grandes e principais cidades do continente, Eska e Judin. Tanto a cidade do Deserto da Lamentação como a de Tundra Infame, e também a que ficava localizada na Floresta do Desespero, no Continente de Pastur, tinham sido projetadas e construídas com o único propósito de concentrar o poderio armamentista e o contigente de recrutas e soldados, sendo esses em número bem maior do que o de civis nessas cidades.
O brilho forte do sol cegou suas visões por alguns instantes, até que eles conseguiram enxergar o azul quase atordoante daquele céu límpido. Vohldrik e Lehvinia, enfim, estavam na cidade militar do Deserto da Lamentação. Ficaram bastante surpresos os dois, pois tinham acabado de sair no Portal de Teleporte que ficava praticamente na parte sul interna do enorme muro de pedra que cercava todo a área do prédio da Central das Forças Armadas do Condado do Deserto, um complexo arquitetônico construido no meio da cidade com pedras cujas tonalidades pareciam se confundir obrigatoriamente com as tonalidades presentes naquelas regiões áridas e desérticas. O prédio possuia uma imensa cúpula dourada na parte central rodeada por outras quatro abóbodas menores, estas também delimitadas por 2 miranetes dispostos nos lados leste e oeste da construção que podiam ser vistos de qualquer ponto da cidade.
Sob o forte forte, Vohldrik e Lehvinia caminharam pela trilha pavimentada por pedras irregulares em direção ao prédio. No centro daquele pátio adornado por diversas palmeiras destacava-se no chão o desenho de um imenso sol, feito a partir do mosaico das próprias pedras irregulares. Um pequeno grupo de Magos novatos passaram por ali correndo, enquanto comentavam a respeito de estarem atrasados para treinarem suas habilidades na área dos fantoches de treinamento. O Guerreiro e a Maga atravessaram todo o pátio, até perceberem a presença de alguém que parecia estar aguardando pela sua chegada. Era o Oficial da Guarda Markus, conhecido por todos como um dos duelistas chefe da Guarda Militar que protegia os domínios da Cental das Forças Armadas do Deserto da Lamentação. Vohldrik imediatamente o reconheceu o robusto e imenso amigo de longe, com suas vestes da Guarda em tons azuis e preto, e usando um tubarte azul celeste preso por uma apresentável faxia preta. Acenou de maneira contente para ele, gesto que foi imediatamente retribuído por Markus.
- Meu jovem amigo Vohldrik! – exclamou Markus, enquanto cumprimentava o guerreiro, que parecia ficar menor ainda perto do Oficial da Guarda. – Eu soube pelo Agente do Armazém que você foi à procura do Capitão Mark, e pela sua demora em retornar, temi que algo tivesse acontecido contigo. Afinal, você encontrou o Capitão Mark?
- Encontrei, Markus, e você nem imagina as aventuras que passei e por onde eu andei! – respondeu Vohldrik com uma visível empolgação própria de sua idade de garoto ainda. Lehvinia, em princípio, olhou intrigada para o jovem guerreiro, e em seguida soltou um sorriso típico de quem acabara de ficar desconcertada pela situação, já que ela ainda não tinha presenciado o jeito ameninado de Vohldrik desde que o conhecera.
- Pela empolgação, você deve ter passado por muitas coisas nos últimos dias, hein? – perguntou sorrindo Markus.
- Claro! -  respondeu Vohldrik com uma agitação típica de um garoto cheio de histórias para contar. – Seu primo vai adorar ouvir minhas aventuras e escrever tudo o que vou contar. – o jovem guerreiro coçava a nuca enquanto soltava um sorriso de puro convencimento.
- Eu tenho certeza absoluta de que ele vai adorar escrever suas aventuras. – disse Markus descontraidamente, enquanto virava-se para cumprimentar a Maga – Recruta Lehvinia, há quanto tempo não te vejo.
- Oi, Markus. – respondeu Lehvinia toda sorridente, enquanto acenava de maneira modesta para o Oficial da Guarda. – Faz um tempinho que não nos vemos realmente.
- Vocês já se conhecem? – indagou Vohldrik surpreso, enquanto olhava para os dois.
- Claro que nos conhecemos, Vohldrik. – respondeu Markus – Eu já auxiliei Lehvinia em algumas missões de treinamento em campo logo quando ela entrou para a Academia Militar aqui no Deserto da Lamentação.
- Algumas missões eu não teria completado sem a ajuda de Markus – comentou Lehvinia meio sem graça, enquanto percebia o sorriso de menino maroto presente no rosto de Vohldrik, que olhava para eles dois.
- E então? Depois vamos visitar seu primo para eu contar tudo para ele! – disse Vohldrik empolgado.
O Oficial da Guarda respondeu afirmativamente, e em seguida os conduziu pelos corredores e salões abobadados do prédio, enquanto escutava Vohldrik contar animadamente tudo o que tinha ocorrido com ele pelas montanhas geladas do Continente de Midreth e seus encontros perigosos com zumbis, gorilas e sombras mortais. Lehvinia contemplava realmente surpresa aquele inusitado comportamento de Vohldrik, que parecia deixar fluir seu lado juvenil sem qualquer pudor, um verdadeiro garoto ainda, contente por encontrar um grande amigo que não via fazia algum tempo.
- Markus, como você sabia que nós estávamos chegando aqui no Deserto da Lamentação? – indagou Lehvinia com um ar questionador.
- É mesmo, Markus – também perguntou Vohldrik – Se a gente não avisou que estava chegando, como você soube?
- O Capitão Mark nos alertou que vocês chegariam hoje nesse extao horário. – explicou Markus. – Então recebi orientação do Tenente-Duelista Novack para que assim que vocês chegassem, eu o informasse para que ele pudesse agendar uma reunião imediata com o Comandante Oficial Dunhike.
Ao ouvirem aquela explicação, tanto o Guerreiro como a maga fizeram expressões de puro espanto. Mais uma vez estavam sendo surpreendidos pelas atitudes misteriosas e inexplicáveis do Capitão Mark.
- Novamente o misterioso Capitão Mark. – comentou Lehvinia.
- Nada me tira da cabeça que ele seja um adivinho, ou um profeta. – opinou Vohldrik de maneira incisiva, tentando mostrar firmeza naquilo que dizia. Markus olhou para o pequeno e jovem amigo e soltou uma risada descontraída, achando graça do que Vohldrik acabava de dizer.
 - Vocês e esses seus jovens questionamentos. – disse o Oficial da Guarda. Alcançaram o 3º andar do prédio, e no hall central adornado por pilastras revestidas de desenhos em mosaicos sustentado um teto abobadado, encontraram o Tenente-Duelista Novack. Após rápidos cumprimentos militares, Novack agradeceu pelos serviços prestrados por Markus em conduzí-los imediatamente ao seu encontro, e então solicitou que Vohldrik e Lehvinia os acompanhasse até a sala do Comandante Oficial Dunhike. Antes, o jovem Guerreiro e a observadora Maga despediram-se do Oficial da Guarda, e Vohldrik cobrou a visita que fariam para o primo de Markus. Então seguiram por um extenso corredor até a entrada da sala do Comandante Oficial, que já os aguardava ansioso.
O Comandante Dunhike era um senhor de idade avançada e corpo esguio, rosto marcado pela passagem dos tempos e delineado por um bigode e cavanhaque totalmente grisalho. Vestia uma batina em tons bege e amarelo dourado, com detalhes de arabescos em marrom-escuro e preso na cintura uma fivela escura com detalhes em prata. Usava um imponente chapéu-turbante amarrado por uma faixa alaranjada e segurava constantemente na mão esquerda uma katana sempre guarnecida na bainha. Entretanto, sua aparência anciã não condizia com seus movimentos rápidos e determinados, e seus gestos firmes e joviais. Dunhike estava sentado em sua mesa, no meio de uma sala ampla, arejada e bem iluminada por enormes janelas, assinando diversos papéis e os entregando para dois secretários subalternos quando avistou a entrada do Tenente-Duelista Novack seguido por Vohldrik e Lehvinia. Logo levantou-se confiante e sorrindo, enquanto dirigia-se ágil em direção aos recém-chegados recrutas graduados.
- Fabuloso! Simplesmente fabuloso! – disse o Comandante Oficial de maneira contida. – Mais uma vez, o Capitão Mark foi preciso nas informações. – Dunhike aguardou a rápida saída dos subalternos e do Tenente-Duelista para então prosseguir com a reunião. – Estava aguardando a chegada de vocês com informações da missão para o qual foram designados pelo Capitão Mark.
- Senhor... – interrompeu Vohldrik, mostrando um ar cheio de questinamento – ...estamos confusos sobre o fato de nosso ponto de retorno ter sido bem aqui na Central.
- Na verdade, isso tem explicação direta com os cartões de teleporte entregues a vocês pelo Capitão Mark antes de iniciarem sua missão. Eles estavam programados com coordenadas de retorno justamente para o Portão de Teleporte localizado aqui no prédio da Central. – explicou Dunhike.
- Então o Capitão Mark já sabia que retornaríamos exatamente para a Central? – perguntou Lehvinia meio confusa.
- Exatamente, minha jovem Maga. – respondeu Dunhike prontamente – Inclusive ele me informou o dia e momento exatos em que vocês chegariam aqui. E como sempre, ele acertou novamente! – o Comandante Oficial demonstrava certa euforia quando falava do Capitão Mark. Mas imediatamente ele percebeu sua alegria exagerada naquele momento e rapidamente se aprumou, endireitando-se numa pose formal e contida. Pigarreou e então, mais contido, prosseguiu de maneira mais centrada com a reunião. – Muito bem, gostaria que vocês dois relatassem inicialmente como foi a missão de vocês e os resultados finais obtidos.
Dito isso, Lehvinia e Vohldrik, cada um a seu tempo, iniciaram um breve relato resumido do que ocorreu desde a partida deles da morada do Capitão Mark, explicando basicamente todos as situações ocorridas nas montanhas geladas de Midreth até o retorno deles na cidade do Deserto da Lamentação. O Comandante Oficial Dunhike ouviu tudo atentamente, sem perder qualquer detalhe do que tinha sido contado pelos dois. Após 25 minutos de explicações, Dunhike fez uma pausa silenciosa, enquanto alisava mansamente seu cavanhaque branco.
- Meus jovens, de certa forma, apesar de não terem encontrado de fato Kashu, todas as informações que foram trazidas por vocês estão sendo muito úteis para que possamos confirmar todo o envolvimento dele na série de roubos de mercadorias que tem ocorrido lá no Continente de Midreth. – explicou Dunhike calmamente.
- Desculpe, Comandante, mas como nossas informações podem ajudar nesse caso? – perguntou Vohldrik, curioso.
- Muito simples, meu jovem guerreiro. O local descrito como sendo um possível esconderijo de mercadorias roubadas tinha ligação direta com outras informações envolvendo Kashu. E a missão de vocês na verdade confirmou definitivamente tudo isso. No final das contas, a missão trouxe resultados positivos. – Dunhike fez uma nova pausa na conversa, como que avaliando as próximas palavras que diria. Então virou-se para os dois recrutas graduados e explicou o que viria pela frente para o Guerreiro e para a Maga.
- Creio que vocês não terão descanso, pois informo oficialmente que os dois já foram designados para uma nova missão.
Vohldrik e Lehvinia olharam para Dunhike surpresos, pois não esperavam realmente que fossem convocados para uma nova missão tão rapidamente. Permaneceram calados ouvindo as explicações do Comandante Oficial.
- Recruta Graduada Lehvinia. Seu histórico positivo de missões de busca e resgate de grupos desaparecidos tem chamado a atenção de seus superiores aqui em nossa Central, assim como de diversos outros Comandantes nas outras Centrais Militares nos diversos continentes. Devido ao seu sucesso nas missões anteriores, você foi indicada para uma nova missão de busca e resgate de um grupo de soldados que desapareceu nas montanhas geladas próximas ao condado de Tundra Infame. – Dunhike dirigiu-se à sua mesa e mexeu em uma pequena pilha de papéis, até achar uma pasta em específico, abrindo-a. – Segundo informações sobre o grupo, ele era formado por soldados daqui de nossa Central e da Central das Forças Armadas de Tundra Infame.
- Isso significa então que retornaremos para Midreth? – questionou Lehvinia.
- Imediatamente. Tanto você como Vohldrik foram designados para esta missão. – confirmou Dunhike – Assim que vocês chegarem no Condado de Tundra Infame, sigam para a Central das Forças Armadas e obtenham novas instruções do Comandante Henkoff. Acredito que mais alguém irá acompanhá-los nesta missão.
- Mais um recruta graduado? Quem seria? – indagou Vohldrik.
- Essa informação somente o Comandante Henkoff poderá dar a vocês. – respondeu Dunhike de forma meio enigmática. - Agora podem ir, estão dispensados.

Começava a nevar discretamente quando Mehldrik parou diante da Loja de Simon. Intimamente sentia-se chateado por saber que não tinha boas notícias para o amigo, e isso o fez hesitar um pouco em entrar na loja. Pensativo, o Guardião não havia reparado a presença de um jovem garoto sentado sobre alguns caixotes de madeira empilhados do lado de fora da loja, próximos à entrada. Apesar de seus 13 anos de idade, o garoto parecia muito mais interessado na leitura de um estranho livro que tinha em suas mãos do que estar se divertindo com os outros meninos que passavam correndo pela rua. Percebeu que começava a nevar e se preparava para entrar na loja quando avistou o Guardião Arcano.
- Mehldrik? – o garoto fez uma expressão de puro espanto.
- Não tinha visto você aí sentado. Seu avô está na loja? – perguntou.
- Sim, está lá dentro no depósito. Quer que eu chame ele?
- Agradeceria se você fizesse isso.
Os dois entraram na loja, cujo interior era incrivelmente forrado por estantes até o teto, com centenas de tipos de elmos, grevas e outras partes de armaduras feitas com diversos tipos de materiais como aço negro e titânio. O garoto seguiu direto para os fundos da loja, passando ao lado de um poço circular de meio metro de altura em cujo interior metais líquidos derretidos queimavam em chamas incandescentes que iluminavam diversas ferramentas de ferreiro encostadas numa parede próxima a uma porta. Foi por essa porta que o garoto entrou, descendo por uma escadaria que sumia numa penumbra. Mehldrik apenas observou o garoto sumir pela porta, e silencioso aguardou que alguém retornasse. Observava algumas peças de armaduras numa estante próxima quando uma voz conhecida quebrou aquele silêncio do recinto e o trouxe de volta de seus pensamentos.
- Meu amigo Mehldrik! Enfim você retornou! – bradou Simon, abrindo os braços, mostrando toda sua satisfação ao rever o amigo Guardião.

4 comentários:

  1. legal curti d +
    primeira vez q leio

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  2. Olá!
    Caro Ulisses,
    As cronicas deveriam sair em midia impressa (Faria o maior sucesso com a molecada. heuehue). Será que a ESTsoft, ou mesmo a GameMaxx não se interessariam, até mesmo pra divulgação do game? (É claro que já pensou nisso, mas estou empurrando pra reforçar a idéia! ^^)

    Parabéns!!! Tolkien que se cuide!!! ehueheueh ;)

    obs.: Esses nomes peculiares... De onde vieram? Pq somente a duelista possue um nome 'real'(Hevelin)?

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  3. Nos primeiros capitulos vc fala do cartão de teleporte, e a hevelin comenta com o mehldrik q os militares possuem o cartão agora ate os novatos tem

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  4. Sim, eu falo sobre o Cartão de Teleportee e explico que ele é de uso exclusivo dos Militares, e isso inclui os recrutas novatos que são designados para as missões pelos seus superiores. Não é que "agora até os novatos tem". Eles recebem esses cartões dos seus superiores sempre que forem designados para missões muito importantes.

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