domingo, 26 de julho de 2009

Capitulo XIV

Sem perder tempo, todos seguiram caminho pelo lago congelado. A neve que caía escondia a grossa camada de gelo de pouco mais de 15 centímetros que se estendia sob seus pés e seguia em direção até onde a vista alcançava. E no momento, ninguém conseguia enxergar mais do que 100 metros à frente, por culpa daquela nevasca que desenhava todo o clima daquela região de Tundra Infame. Temendo que alguém acabasse se perdendo naquela imensidão branca e gelada, Mehldrik orientou a todos que permanecessem juntos, andando em grupo. A nevasca tornou-se mais constante e forte, com rajadas de ventos que dificultavam a movimentação pela neve espessa. Todos procuraram se proteger daquele clima extremamente frio agasalhando-se da melhor maneira que podiam, usando suas mantas com capuz e luvas grossas feitas com pele de lincorne pelos melhores artesãos das regiões de Tundra Infame. Ocasionalmente, durante aquela jornada perigosa pelo lago congelado, podiam ouvir ao longe uivos tenebrosos de lobos zumbis, andando em matilhas desesperadas à procura de comida.
Estavam andando há algumas horas, quando Vohldrik avistou ali próximo algo se mexendo por debaixo da neve, em um pequeno monte formado ali.
- Pessoal, tem alguma coisa se mexendo ali. – disse o jovem guerreiro, apontando à sua esquerda.
- Espere, Vohldrik, fique aí. – alertou Mehldrik – Não sabemos o que pode ser. Fiquem aqui. – O Guardião Arcano caminhou em direção ao local vagarosamente, apenas empunhando sua katana.
Havia algo ali realmente, e se mexia sem parar. Era um solitário e inquieto lebrecorne, que remexia sem parar a neve, lançando-a com suas minúsculas patas para todos os lados. O pequenino animal, cujo pêlo branco era uma ótima camuflagem contra os predadores, repentinamente parou, como que sentindo cheiro de perigo próximo dele, levantando suas enormes e pontudas orelhas, tentando captar algum tipo de som que denunciasse a presença de um possível inimigo. Coçou o nariz, e congelou o olhar na direção de Mehldrik e dos outros que estavam ali perto. O lebrecorne permaneceu parado, a princípio paralisado de medo, mas não demorou muito para ele sair pulando em disparada e desaparecer na imensidão de neve.
- Era apenas um lebrecorne – disse Mehldrik, sem se virar. Ainda estava olhando atentamente aquele monte ali perto dele. Havia algo mais ali, e talvez o pequeno animal estivesse remexendo aquele monte à procura de comida ou algo que tenha atraído sua atenção. Aproximou-se com certa cautela, para enxergar melhor o que seria aquilo caído e quase coberto pela neve.
- Vamos embora então. É melhor não perder mais tempo. – disse Drakonyh contrariado. – Não suporto mais ver tanta neve. Até meus pensamentos congelaram.
- Não sou muito de concordar com qualquer um, mas Drakonyh tem razão. – opinou Hevelin – Não podemos perder mais tempo.
- Agradeço que tenha concordado comigo, minha amiga – o espadachim soltou um leve sorriso – Apesar de não me dar bem com a maioria dos duelistas que conheço, você tem uma personalidade com a qual simpatizei.
- Não se preocupe – respondeu a duelista, de cara fechada – Concordei contigo apenas porque você disse uma verdade, e não para agradar você. Também não sou de muita amizade com espadachins arcanos.
Drakonyh sentiu-se desarmado com a resposta, mas continuou sorrindo, meio sem graça. Estava quase chegando à conclusão de que não tinha mesmo sorte com qualquer tipo de amizade com duelistas.
- É... pelo menos valeu a tentativa. – disse o espadachim, dando de ombros, ainda sorrindo sem graça.
- Pessoal, esperem um pouco. – interrompeu Mehldrik, com uma voz um pouco tensa. – Acho que encontrei algo aqui.
- O que você encontrou? – perguntou Lehvinia, com ar de extrema curiosidade.
- Não sei ainda, mas acredito que não seja algo bom.
Mehldrik aproximou-se mais, e ajoelhou-se sobre aquele pequeno monte. O lebrecorne havia espalhado um pouco da neve ao redor. O guardião arcano decidiu tirar mais um pouco da neve, afastando com as mãos, e à medida que foi limpando o local, revelou-se diante dele o corpo inerte e congelado de uma pessoa.
- É um corpo. – disse Mehldrik, sem rodeios.
- O que? – assustou-se Lehvinia – Um corpo? Como assim um corpo?
- Está morto? – questionou Amarantys rapidamente.
- Sim. – respondeu Mehldrik, depois de analisar a pulsação. – Pelas vestimentas, acredito que era um comerciante errante.
- Será que foi atacado por algum animal? Gorilas, pantrocornes? – indagou Vohldrik.
- Não, pois não tem marcas de feridas. Suas roupas não estão rasgadas, e nem existe rastro de sangue ao redor dele. – Mehldrik foi escavando ao redor daquele corpo, enquanto investigava mais sobre a possível causa da sua morte. – Provavelmente deve ter morrido por causa do frio excessivo. Mas tem algo de estranho aqui.
- O que mais de estranho pode haver em se morar num lugar onde você pode morrer de frio? – retrucou Drakonyh. – Não entendo como as pessoas podem morar num lugar como esse.
- Não sei explicar direito. – disse Mehldrik, enquanto olhava intrigado para o rosto daquele comerciante morto. A expressão congelada deixada por aquele pobre coitado antes de morrer era de puro pavor, como se tivesse visto algo horrendo, maligno. – O olhar dele congelado, é como se ele tivesse visto a morte em pessoa.
Mehldrik revirou os bolsos do casaco e o bornal de couro que estava preso pela alça ao corpo do comerciante. Entre cadernetas de anotações, mapas da região, um pequeno aparelho antigo de GPS e amostras de peles de diversos animais catalogados em pequenos frascos, o jovem guardião encontrou um saquinho de veludo cor de vinho. Dentro dele havia duas pequenas pedras de quartzo de cor dourada opaca, lapidadas com faces hexagonais. Eram duas pedras guia. Elas eram feitas com o quartzo dourado, um tipo de mineral encontrado nas profundezas de algumas das minas daquela região e que tinha um tipo de poder bastante incomum e que foi descoberto pelos alquimistas que tentaram utilizá-la pela primeira vez para outras finalidades. Aquele quartzo tinha o poder de teleportar as pessoas para locais e lugares onde houvesse maior concentração do mesmo mineral. Por causa disso, muitos dos maiores condados de Nevareth ergueram, em suas praças principais, diversas estátuas e monumentos feitos de quartzo dourado, com o propósito de concentrar o poder de teleporte liberado pelas pedras guia para quem as utilizasse. Inicialmente, esse tipo de teleporte passou a ser utilizado por comerciantes, viajantes errantes, mensageiros e diversos membros dos Conselhos de Oficiais dos condados mais importantes. O seu uso era simples, bastava segurar a pequena na mão fechada, imaginar o local para onde quisesse ir e dizer apenas “Retornar”. Cada pedra podia ser utilizada apenas uma vez, e após seu uso, desaparecia por completo.
- Encontrei um pequeno aparelho de GPS, mas parece quebrado. – Mehldrik tentou fazê-lo funcionar, mas sem sucesso. O portátil aparelho tinha rachaduras no monitor e estava inutilizado completamente. – Ele poderia nos ser muito útil se funcionasse. Em compensação, encontrei duas pedras guias.
Após dizer isso, um estranho assobio soturno pairou no ar, deixando todos em estado de alerta. O assobio cresceu assustadoramente e se transformou em gritos agudos de pavor. Mehldrik, ainda ajoelhado ao lado do corpo inerte, olhou para o lado e viu um vulto negro descendo rapidamente dos céus numa espiral de fumaça negra vindo em sua direção.
- Protejam-se! – gritou para os outros, antes de cair de costas contra a neve. Rapidamente pegou seu escudo astral, ativando-o a tempo de rebater aquela espiral de fumaça que vinha ao seu encontro, lançando-a de volta para o ar.
Imediatamente, todos se jogaram no chão, tentando proteger-se daquelas ameaças que agora voavam sobre suas cabeças perigosamente. Eram diversas sombras mortais, espectros de espíritos malignos que tinham como único objetivo sugar as almas de pessoas vivas.
- Mas o que diabos é isso agora? – gritou Drakonyh, que após se jogar assustado ao chão, ajoelhou-se para tentar enxergar o que era aquilo que os estavam atacando. Balançava as mãos de maneira nervosa, como se estivesse tentando afastar moscas perturbadas de sua cabeça. – Já não bastavam zumbis horríveis e gorilas branquelos, e agora me aparecem fumaças assassinas?
- O que são essas coisas voando sobre a gente? – perguntou Amarantys, um pouco assustada.
- São sombras mortais. – respondeu Vohldrik. – Espíritos errantes. Eu nunca tinha visto um, mas sempre ouvia meu pai contando histórias horríveis sobre esses sugadores de almas.
- Temos que afastá-los daqui. – disse Hevelin. – Eu tenho quase certeza de que aquele pobre coitado ali foi morto por essas coisas.
- Permaneçam abaixados. – continuou alertando Mehldrik. – Vamos armar um ataque para afastá-los daqui.
Lehvinia estava jogada ao chão em meio aos outros, mas contrariando o pedido de Mehldrik, repentinamente ela sentiu sua Força Arcana pulsar firme dentro de si, o que a fez levantar-se ágil. Todos olharam espantados para a jovem maga, que tirou as luvas de suas mãos, colocou as orbes e com apenas um gesto determinante com a mão direita, liberou o poder de sua força espiritual em uma aura iluminada e vibrante em ventos que a rodeavam por completo e que podiam ser vista por todos.
- É isso mesmo o que estou vendo? – indagou Amarantys, meio confusa. – Ela liberou a própria aura?
- Pode ter certeza que sim. – respondeu Drakonyh, com um sorriso de canto de lábio. – Agora vai ficar realmente excitante isso aqui. – Amarantys encarou o espadachim com ar de espanto, mas sua atenção logo se voltou para Lehvinia, envolvida naquela aura luminosa e envolvida pela força espiritual do elemento Vento. As maléficas Sombras Mortais começaram a rodopiar rapidamente no ar ao seu redor, girando em perigosas espirais de fumaça negra. Momentaneamente, elevaram-se um pouco mais nas alturas, para logo em seguida descer com toda força e fúria sobre a Maga possuída em Aura liberta. Lehvinia então começou a concentrar a sua energia astral em diversos elementos, entre, água, fogo, terra e ar, que surgiam ao seu redor, concentrando-se em suas mãos equipadas com as orbes. Ela, então, iniciou o ataque contra aquelas sombras, lançando em sua direção sequências controladas de canhões de gelo, fogo e terra, ora com uma mão, ora utilizando as duas para potencializar mais o poder de ataque. Com sua Aura liberta, Lehvinia podia sentir sua força arcana fluir com mais vigor e intensidade, liberando momentaneamente seu poder de forma incomum. Os canhões foram acertando em cheio aqueles malignos seres, ricocheteando alguns para bem longe e praticamente pulverizando outros mais fracos em pleno ar, até não sobrar qualquer vestígio. Duas daquelas sombras mortais recuaram e partiram pra cima de Mehldrik, que preparava-se para soltar, com seu escudo astral, canhões na direção dos mesmos. Porém, Lehvinia foi muito mais rápida e soltou dois canhões de gelo e fogo, fazendo as perigosas criaturas sumirem no ar acima do Guardião Arcano caído na neve. Mais alguns momentos e mais canhões, até que todas as Sombras Mortais desapareceram, deixando apenas leves cinzas pairando no ar, em meio à neve que caía. Logo após acabar com a ameaça que rondava a ela e seus amigos, Lehvinia sentiu o poder de sua Aura iluminada esvair-se mansa e sutilmente. Respirou profundamente e fechou os olhos por um momento, buscando um breve relaxamento após a liberação intensa de sua força arcana. Era o tempo exato de seus batimentos cardíacos voltarem à pulsação normal. Demorou alguns segundos até que todos tivessem certeza de que podiam se levantar sem perigo de qualquer outro ataque iminente. Amarantys aproximou-se de Lehvinia, tocando em seu ombro.
- Você está bem? – perguntou a Arqueira Arcana.
- Sim. – respondeu a Maga com um sorriso singelo e um olhar de agradecimento pela preocupação de Amarantys. – Estou apenas um pouco tonta, mas é uma sensação normal.
- Fiquei muito admirada pela sua atitude. Você foi muito corajosa na decisão que tomou. – continuou Amarantys.
- Garota, você foi sensacional! – bradou Drakonyh, empolgado com a cena que tinha acabado de presenciar. Demonstrava certa excitação por toda situação que acontecera ali, enquanto caminhava em direção de Lehvinia e segurava sua mão. – Você tem estilo, e a maneira como você encarou o perigo! Eu gosto disso!
- Quanta empolgação desnecessária... – sussurrou Hevelin, no momento em que Mehldrik passava ao seu lado, que ouviu aquele comentário que a duelista claramente dirigia a Drakonyh. Ela parecia um tanto incomodada com aquela atitude meio espalhafatosa do espadachim, que não parava de elogiar Lehvinia, que também recebeu palavras de agradecimento do Guardião Arcano.
Vohldrik, que durante o ataque das Sombras Mortais, manteve-se agachado, mas segurando sua montante em posição de possível ataque, aproximou-se da Maga, fincando com cuidado sua enorme arma em um pequeno monte de neve formado ali. Sorrindo, estendeu a mão para Lehvinia em sinal de agradecimento. Não disse uma palavra sequer a ela, apenas continuou sorrindo, enquanto apertavam as mãos. A Maga retribuiu o gesto, lançando também um sorriso para o jovem guerreiro. Permaneceram os dois naquele breve momento de gratidão até que a voz um pouco tensa de Mehldrik os trouxe de volta para a perigosa realidade que os cercava naquele momento.

5 comentários:

  1. Agora sim, ta do jeito q eu gosto, bastante açao =D
    foi um dos melhores capitulos ate agora na minha opiniao, continue assim q o livro tem tudo pra dar certo.
    Go go cap. XV xD

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  2. Sou um jaogdor de caabl e estou curtindo muito essa historia, continuando assim vc vai longe, e se chegar a publicar o livro me avise q estarei disposto a comprar

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  3. Poxa velho, cada cap. XV???
    to a 4 meses olhando aki quando vc vai posta. Abandona seus fãs nao, continua essa historia aí, ta muito massa. Eu e mais um tanto de gente ai que sabe oque acontece. se vc tive mandado noticias no orkut, manda aki tbm pq no orkut eu nao posso entra, eu leio as historias no trabalho hehe. Vamos la Ulisses, manda ve nessa historia ai, mostra pra gente do que voce é capaz brow =)

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  4. Me arrepiei toda velhooooooooooo.
    Que massa! kadá o proximo capitulo???

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  5. voce descreve as batalhas muito bem gosto de você pois me lembro do J.J.Tolkien escritor do senhor dos aneis

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