quinta-feira, 16 de julho de 2009

Capitulo XIII

Mehldrik caminhava sozinho em meio à floresta coberta de gelo e dominada por aquele clima frio. Tentava se aquecer esfregando as mãos uma contra a outra, enquanto olhava ao redor com uma expressão confusa e desnorteada. Não fazia idéia de onde estava, e nem imaginava onde estavam todos os outros. Seu irmão Vohldrik, Hevelin, Lehvinia, todos haviam sumido, e ele não sabia do paradeiro deles. Andava olhando para os lados um pouco assustado com essa situação, tentando se lembrar onde e quando se perdeu, mas sua mente parecia entorpecida por um esquecimento repentino e estranho. A escuridão da noite foi dando lugar a um amanhecer manso e gélido. Nevava sutilmente quando ele avistou ao longe, entre as árvores, uma cabana, que lhe pareceu familiar. Era a cabana de seus pais, onde ele havia passado os melhores anos de sua infância. Uma sensação de nostalgia o dominou completamente, misturado a um sentimento de esperança, que inundou ainda mais seu espírito quando ele ouviu vozes ao longe, que pareciam vir da cabana. Seriam seus pais que haviam retornado enfim e estariam esperando pelos seus filhos? As vozes eram alegres, pareciam conversar animadamente, soltando risadas gostosas. Mehldrik parou por um instante, olhando para os lados. Soltou um sorriso, como se não acreditando em toda aquela situação. A cabana ainda estava um pouco distante, e a neve que caía dificultava um pouco a visão, mas ele conseguia enxergar pessoas na frente da cabana, conversando, rindo.
Começou a correr em direção à cabana. Não conseguia conter sua ansiedade em reencontrar seus pais. Mehldrik esperava por esse dia há muito tempo. As vozes ficavam mais próximas, e sua ansiedade só aumentava. A voz de seu irmão Vohldrik tornou-se clara, e então Mehldrik correu mais rápido ainda. Um arrebatamento alegre tomava conta de todo seu espírito, enquanto vencia toda aquela neve e corria por entre as árvores. Nada o impediria de reencontrar seu irmão e seus pais. Seu irmão gritava seu nome. Entretanto, Mehldrik percebeu algo estranho. Por mais que corresse em direção à cabana, não conseguia chegar. Seus passos começaram a ficar pesados, e suas pernas pareciam afundar mais e mais naquela neve toda. Seu irmão continuava gritando seu nome e acenava. Quando parecia se aproximar um pouco, então conseguiu visualizar um pouco mais a cena à sua frente, e o que viu foi tão atordoante que cessou seus passos de maneira instantânea. Seus pais e seu irmão não estavam conversando alegremente, mas pedindo ajuda desesperados, tentando se defender de gorilas brancos enfurecidos. Seu irmão continuava gritando, chamando seu nome insistentemente, enquanto Mehldrik, atônito, sentiu um desespero tomar conta de si. Tudo ao seu redor começou a se dissipar de maneira alucinante, como que levada por sopros gelados de uma nevasca repentina e violenta, girando sem parar. Já não enxergava mais nada, e só conseguia ouvir a voz de Vohldrik gritando seu nome sem parar.
Foi justamente nesse exato momento, onde realidade e sonho se confundem insistentemente, que Mehldrik acordou assustado, olhos arregalados, coração disparado, sendo pego de surpresa numa situação de alto risco. A angústia gerada pelo pesadelo agora foi substituída pela gravidade de perigo da realidade ao seu redor. Ao seu lado, a pequena fogueira que havia acendido na noite anterior já havia se consumido completamente, restando apenas cinzas. Todos haviam se levantado também assustados, correndo para a entrada da gruta. Ali próximo estava Vohldrik, cercado por um bando de gorilas brancos. Girando sua enorme montante em espirais rápidas, ele tentava se defender dos animais enfurecidos, enquanto gritava o nome de Mehldrik e dos demais, alertando-os para o perigo que havia se aproximado enquanto eles ainda dormiam.
- Temos que sair daqui rápido! – gritava o jovem guerreiro, de maneira ofegante – Eles são muitos, e estão vindo mais descendo aquela colina!
A visão era realmente bastante aterrorizante. Vários grupos de gorilas brancos desciam pelas encostas, pulando por sobre pedras, e se pendurando pelos galhos das árvores. Alguns, mais ágeis, davam saltos incríveis, de uma árvore para outra. Sem demora, Amarantys pulou sobre uma pedra, dando um salto acrobático para mais próximo de onde estava Vohldrik, ao mesmo tempo em que invocava seu arco astral, descarregando com extrema rapidez vários disparos de flechas das sombras contra os gorilas que se aproximavam enraivecidos.
- Corram enquanto tento retardá-los um pouco! – Amarantys fez um sinal apontando à sua direita, onde havia uma trilha descendo logo após a gruta. Todos seguiram a orientação da arqueira e correram para o local indicado, menos Drakonyh, que com passos largos foi em direção de onde estava a arqueira. – O que você faz aqui, seu louco?
- Você acha que eu iria perder essa oportunidade? – disse o espadachim, soltando um sorriso, antes de correr na direção dos gorilas. – Isso aqui vai ser muito divertido!
Enquanto Amarantys continuava disparando de maneira frenética suas flechas sombrias, Drakonyh saiu em disparada, e com movimentos rápidos chegou o mais próximo que podia da horda de gorilas. Empunhando sua espada de lado, Drakonyh parou e olhou fixamente para o primeiro grupo de monstros bem à sua frente. As pupilas de seus olhos sutilmente desapareceram por detrás de retinas prateadas, enquanto ele levantava sua mão esquerda, centralizando seu poder astral no cristal que estava preso a ela. Como que em transe, Drakonyh canalizou toda sua energia em seu pulso, lançando-a como um pó maligno e letal contra os gorilas, enfraquecendo o máximo que podia os seus movimentos. Ele havia fragilizado toda a defesa dos perigosos animais, que sentiram todas as suas forças e agilidades serem substituídas momentaneamente por uma sensação profunda de torpor.
- Aproveite ao máximo, Amarantys! – gritou Drakonyh – Eu enfraqueci os dois grupos da esquerda. Dispare contra eles enquanto eu cuido dos que estão à direita.
Amarantys concordou, e então mirou seu arco na direção dos gorilas entorpecidos, disparando várias flechas astralmente envenenadas. Enquanto lançava os projéteis venenosos, uma névoa verde oriunda do veneno se formava ao redor da arqueira, envolvendo-a momentaneamente, até dissipar-se completamente no vácuo das flechas lançadas. Do outro lado, Drakonyh, ainda em transe, continuava enfraquecendo os monstros em seu redor, e utilizando a técnica da dança da ruína, saltando habilmente em cima dos gorilas, atacando com extrema força com sua espada. Todos os monstros enfurecidos ao seu redor foram caindo diante de sua luta determinada. Por todo lado apenas ouvia-se rugidos ferozes dos gorilas. Assim que o último peludo branco caiu diante de seus pés, e passado o estado momentâneo de êxtase, Drakonyh virou-se e estreitou seu olhar para a colina acima, enxergando dezenas de gorilas descendo pela montanha. Eram muitos, pulando pelas árvores, correndo alucinados para cima do espadachim arcano. Amarantys percebeu a gravidade da situação ao avistar Drakonyh, e soltou algumas flechas envenenadas na direção dos gorilas que corriam para cima dele.
- Drakonyh! Vamos embora! Já não podemos dar conta de todos! – gritou a arqueira, um pouco nervosa.
- Justo agora que estava começando a ficar excitante? – retrucou o espadachim com um expressão visivelmente contrariada.
- Pare de falar besteiras e corra!
Os dois seguiram em disparada para a trilha indicada pela arqueira e na qual os demais já haviam seguido minutos antes.
- Eu já te disse que você realmente não sabe como aproveitar a vida? – perguntou Drakonyh visivelmente chateado. – Podíamos dar conta de todos aqueles gorilas num piscar de olhos.
- E eu já te disse que você é um maluco perturbado? – revidou Amarantys, enquanto corria por entre as árvores, buscando pegar a estreita trilha que seguia por entre um vão nas rochas.
- Admita, depois que nos conhecemos, sua vida ficou mais cheia de desafios. Sinta só o perigo às nossas costas! – Drakonyh soltava urros de alegria, enquanto sorria descaradamente para Amarantys, que algumas vezes chegava mesmo a considerar a possibilidade de que aquele espadachim arcano que conhecera há algum tempo atrás era um louco que sentia prazer em desafiar perigos acima de seu próprio limite humano.
Chegaram à trilha estreita e passaram por ela. Atrás deles, os gorilas se amontoavam numa corrida desembestada em busca de suas vítimas, correndo e pulando uns sobre os outros, urrando sem parar. A trilha que pegaram se afinulava numa passagem única por entre rochas escuras, sem qualquer outro retorno visível. Não demorou muito, e o caminho estreito terminou abruptamente, dando lugar a um pequeno desfiladeiro coberto de neve. Desceram pela encosta, e no meio do caminho já podiam avistar Mehldrik, Vohldrik, Hevelin e Lehvinia, todos parados à beira de um lago congelado. Não demorou muito e já estavam todos reunidos novamente.
- Por um momento, pensamos que vocês não haviam escapado dos gorilas. – disse Lehvinia com expressão preocupada.
- Conseguimos retardar um pouco eles, mas são muitos, e ainda devem estar atrás de gente. – explicou Amarantys.
- São muitos, mas poderíamos ter dado conta da maioria, se não tivéssemos fugido. – a leve firmeza nas palavras de Drakonyh fez todos olharem para ele com um confuso ar de espanto. Ele percebeu os olhares e desconversou no mesmo instante. – Bom, fugimos, mas pelo menos derrubamos uma boa quantidade daqueles monstros peludos e branquelos. – disse, sorrindo sutilmente.
- Agora temos que nos preocupar em como sairemos daqui. – disse Mehldrik, preocupado. – Não podemos voltar pelo caminho por onde viemos por causa dos gorilas, e estamos diante de um lago congelado.
- Essa nevasca não deixa a gente ver o outro lado do lago. – Vohldrik olhava insistentemente para além do lago, tentando enxergar alguma paisagem que pudesse definir a outra margem do lago.
- Não podemos ficar parados aqui muito tempo. O tempo está piorando e ficarmos conversando aqui não vai resolver nada. – Hevelin estava visivelmente chateada com a situação na qual se encontravam no momento. A gente errou no caminho que tomamos ao fugirmos. Podíamos ter sido mais precisos e menos precipitados sobre o que devíamos ter feito na hora.
- Peço desculpas, Hevelin, mas eu não conheço muito bem a região, e quando apontei uma opção de fuga, eu dei a primeira saída que visualizei para todos. Não me interprete mal, mas não tenho culpa se viemos parar em cima de um lago congelado.
Amarantys tentava se explicar, pois tinha a impressão de que aquelas palavras de Hevelin pareciam ser direcionadas a ela, afinal de contas, foi a própria Amarantys quem indicou um caminho para a fuga. Mehldrik pediu um pouco mais de calma a todos, e olhou ao redor. Avaliou a situação a partir exatamente do ponto onde estavam. Atrás deles havia o desfiladeiro coberto de neve por onde desceram, e lá em cima, a trilha estreita entre as rochas, por onde haviam escapado. Voltar por ali era improvável, e permanecer naquela beirada íngreme era perigoso. Mehldrik percebeu que havia descido por uma parte acidentada de uma pequena montanha, e seria muito trabalhoso tentar escalar aquelas rochas. Constatou que a única saída seria realmente atravessar o lago congelado.
- Pessoal, nossa única alternativa realmente é seguir em frente, atravessando o lago. Não podemos mais ficar parados aqui. Parece que a nevasca está piorando.
- Então temos que nos apressar. – disse Vohldrik. – Posso estar errado, mas acho que ouvi os urros dos gorilas agora há pouco.
Todos fizeram silêncio, e apesar do som incessante dos ventos frios, possíveis prenúncios da nevasca que estava por vir, dava para ouvir um som em princípio tímido, mas que parecia aproximar-se cada vez mais. Os gorilas estavam se aproximando de fato.

Um comentário:

  1. foi um capitulo legal, mas...
    teve muita palavra pra poca açao^^
    eu pensei q pelo tempo q demorou iria acontecer muito mais coisas, mas se naum foi nesse capitulo concerteza vai ser nos proximos né? =D Continue com o exelente trabalho e nao decepcione seus fãs :D
    rumo ao cap. XIV xD

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