quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Capitulo IV

Não era o momento mais apropriado para criar estratégias de combate e não havia tempo suficiente para raciocinar muito sobre o que deveria ser feito. Mehldrik sabia que ele e Hevelin estavam em menor número naquele combate, e num rápido lance de olhar, havia contado 15 membros da Guilda ali diante deles. E parece que o clima naquela região gostava de contrariar Mehldrik, pois justamente no momento em que eles bateram de frente com aqueles indivíduos pouco amistosos, a neve voltou a cair, e desta vez com mais intensidade. Mehldrik mais uma vez amaldiçoou aquele clima, o que fez com que Hevelin olhasse para ele com uma expressão de certo espanto, apesar de ainda estar bastante revoltada com a breve discussão que tiveram.
O bando estava muito bem armado, todos com suas espadas, katanas, montantes empunhadas e prontas para dilacerar os inimigos. Não importava a estatura, e entre gordos e troncudos, e magros e esbeltos, todos ali tinham um objetivo em comum, o de simplesmente propagar o pânico e o terror por onde passassem, deixando sempre um rastro cego de destruição e dor. Alguém que estava à frente da guilda, com jeito de líder e olhar serenamente psicótico soltou uma frase horripilante, fazendo com que Mehldrik estreitasse seu olhar numa expressão de raiva:
- Vamos ter carne fresca hoje. Arranquem as entranhas deles!
Dito isso, todos do bando partiram para cima de Mehldrik e Hevelin aos gritos, berros, empunhando ferozmente suas espadas e montantes.
- Rápido, Hevelin, vamos nos separar – disse Mehldrik rapidamente para Hevelin quase como um sussurro. Cada um foi para um lado, correndo por entre as árvores e arbustos, sendo seguido pelos membros da Guilda, que se dividiram para persegui-los. Hevelin agarrou com firmeza e agilidade suas duas katanas, enquanto Mehldrik tirava de seu alforje seu orbe e o invocava em seu escudo astral, ao mesmo tempo em que empunhava sua katana com determinação. Ele percebeu que daria tempo de se livrar dos três oponentes que corriam rapidamente em sua direção, e então recuou tão rapidamente quanto pôde por entre duas árvores, para em seguida mirar seu escudo em um deles e soltar um projétil congelante, fazendo paralisar por alguns momentos. Isso lhe deu tempo de se armar para o próximo golpe contra os outros dois, e o fez rapidamente, soltando um golpe circular com sua katana e derrubando-os no chão. O outro havia conseguido se livrar daquele golpe congelante e partiu novamente para cima de Mehldrik, que dessa vez soltou um projétil relâmpago, sendo dessa vez fatal para o infeliz, caindo já morto. Tudo acontecia muito rápido, e num piscar de olhos, Mehldrik partiu para o ataque utilizando a técnica da guilhotina, lançando-se ao ar em rodopios rápidos e descendo ferozmente com sua katana sobre os inimigos à sua frente. Foi um golpe único e sangrento, porém conseguiu apenas acertar um dos seus perseguidores. Decidiu usar o mesmo golpe, e então promoveu grandes saltos laterais pelos troncos das árvores, e voltou-se contra o último que estava ali à sua frente, desferindo o mesmo golpe de guilhotina. Não teve tempo de respirar, e mais quatro lhe cercaram. E assim como fizera com os pantrocornes, evocou as espadas arcanas na técnica das espadas do julgamento e dilacerou com todos ao seu redor.
Enquanto Mehldrik decidiu aqueles combates contra os ladrões em seu favor, Hevelin empunhava com agilidade suas katanas, mostrando toda sua rapidez numa dança mortífera. Observou dois ladrões que vinham correndo mais próximos de seus passos, e então virou-se numa espiral fantasma, e com apenas esse golpe atingiu de maneira arrasadora os oponentes que estavam a alguns metros. Os demais membros da guilda ameaçadora ainda estavam mais atrás, e ela viu a oportunidade para concentrar-se na técnica da lâmina intensa, que consistia em aumentar a energia potencial de suas armas, de forma a aumentar o efeito de suas técnicas de espada. Então, mudou sua tática imprevisivelmente e partiu pra cima de um dos inimigos, um grandalhão que empunhava uma enorme montante de aço, e desferiu nele um choque arcano, um ataque extremamente ágil que se assemelhava a correr velozmente e atingir o inimigo com uma joelhada fatal. Agachou-se para livrar do golpe de uma afiada daikatana, e então desferiu outra espiral fantasma contra todos à sua volta. Para sua surpresa, ainda havia dois de pé, que levantaram suas espadas contra ela. Hevelin, com sua agilidade potencializada, atacou usando a técnica do Corte da Lua Gêmea, desferindo dois golpes cruzados das suas katanas gêmeas, levando os derradeiros inimigos à morte definitiva. Foram sequências rápidas e eletrizantes, onde Mehldrik e Hevelin acabaram com aquele bando em questão de minutos. Ao final, os dois, ofegantes e um pouco cansados por causa dos golpes que exigiam muito de suas técnicas e força arcana, olhavam aqueles corpos estirados na neve, ao mesmo tempo em que se entreolhavam calados, a uma distância relativa um do outro.
Passado todo o furor e perigo daquele combate, Mehldrik lentamente foi se aproximando de Hevelin, que já havia recolhido as katanas mais uma vez, e já não mais se preocupava com a breve discussão que tivera há pouco. Agora, o foco de seus pensamentos era outro. Ela estava intrigada com aquele bando da Guilda que encontraram.
- Será que eles estavam me seguindo? – questionou para Mehldrik, pensativa. – Ou será que apenas tivemos a infelicidade de esbarrar com eles aqui nas montanhas?
- É uma boa pergunta. – respondeu Mehldrik. – Ou a Guilda podia já saber da sua localização e então enviou esse bando para impedir que você descubra onde eles possam estar, pois isso levaria a desvendar o local onde as mercadorias roubadas estariam.
- Isso nos dá uma certeza. Estamos próximos de encontrar o esconderijo, e pelas instruções que Henkoff me passou, parece que ele realmente está certo quanto ao local onde eles estejam escondendo o que roubaram.
- E pelo visto, isso também me dá a certeza de que devo estar próximo de meu destino também. – disse Mehldrik, enquanto revistava um dos ladrões mortos.
- A propósito, agora fiquei intrigada com outra coisa. O que você faz aqui caminhando por estas montanhas? Você não chegou a me dizer, apesar de ter me dito coisas das quais não gostei nem um pouco.
Mehldrik realmente começava a considerar Hevelin um tanto quanto desaforada e sem tolerância nenhuma para críticas, e isso não era nada bom para duas pessoas que acabaram de se conhecer. Ele relutou um pouco em responder, mas decidiu explicar, enquanto procurava possíveis pistas entre aqueles ladrões que pudessem lhe indicar o paradeiro da pessoa que estava ali para resgatar.
- Estou aqui em uma missão também, a pedido de um amigo meu do condado. Vim para encontrar e resgatar alguém chamado Skaild, que está sendo ameaçado pela Guilda dos Ladrões.
Hevelin fez uma expressão sutilmente questionadora, levantando um de suas sobrancelhas e continuando o interrogatório.
- Em que esse Skaild se meteu para ser ameaçado pela Guilda?
- Dívidas não pagas, pelo que me foi explicado. E ele não tem como pagar, então a Guilda está procurando ele.
- Irão matar ele?
- Não, a intenção deles é outra. Eles pretendem capturar Skaild e vender ele ao Exército Mercenário. Assim eles acabam lucrando, e Skaild quita as dívidas que tem com o bando.
- Então, de uma forma ou de outra, acabaríamos nos encontrando de qualquer jeito.
- Como assim? – indagou Mehldrik, dessa vez olhando para Hevelin.
- Se você está indo resgatar alguém jurado de morte pela Guilda, e eu estou procurando o local aonde essa mesma Guilda vêm escondendo as mercadorias roubadas, logo... – Hevelin fez uma pausa proposital, esperando que Mehldrik entendesse o raciocínio e completasse a frase. Ele a encarou por um momento, como se buscando encaixar peças de um quebra-cabeça proposto.
- Logo, você considera que Skaild já tenha sido capturado e esteja nesse mesmo local das mercadorias roubadas.
- Claro. Não acredito que esse Skaild tenha conseguido se esconder por muito tempo. Esse bando não seria tão estúpido assim, a ponto de deixar alguém escapar. Eu acredito que ele já tenha sido capturado.
Por um instante, Mehldrik sentiu um ligeiro calafrio na espinha, e não era causado pelas baixas temperaturas das montanhas. Poderia Hevelin estar certa em suas hipóteses? Será que ele falhou em sua missão de resgatar Skaild e levá-lo a salvo de volta para o Condado? O que diria seu amigo Simon se ele retornasse com tristes notícias? Mehldrik olhou novamente para Hevelin, que insinuava um ligeiro sorriso de canto de lábio, e ligeiramente pensou em outras possibilidades. Hevelin poderia estar apenas jogando com hipóteses, com uma cínica intenção de afirmar subjetivamente que ele também cometia erros e poderia desta forma ter falhado em sua missão.
- O que você acha? – indagou Hevelin, ainda com aquele leve sorriso de canto de lábio, e com uma das mãos na cintura.
Mehldrik evitou dar uma resposta que iniciasse uma nova discussão sem necessidade, pois provavelmente poderia estar equivocado com seus pensamentos naquele momento. Começou a analisar a possibilidade de Skaild já ter sido capturado pela Guilda, e concluiu rapidamente que essa possibilidade apenas mostrava que ele e Hevelin acabavam tendo o mesmo destino naquele momento.
- Se, de acordo com sua hipótese, Skaild já tenha sido capturado, isso significa que ele possa estar nesse esconderijo, o mesmo esconderijo que você está indo investigar, segundo instruções de Henkoff.
- Isso mesmo.
- Ou seja, nesse caso, estaríamos eu e você indo ao mesmo lugar, apesar de nossas missões serem distintas.
- Exatamente.
- E o que você sugere nesse caso? – questionou Mehldrik, quase se arrependendo de ter feito essa pergunta.
- Eu sugiro que a gente esqueça aquela discussão que aconteceu entre a gente, e nos unir no mesmo propósito, já que possivelmente estejamos indo os dois para o mesmo destino encontrar o mesmo bando.
Mehldrik hesitou um pouco antes de responder.
- Tudo bem, eu aceito sua sugestão. Agora eu acho melhor a gente realmente adiantar nossa jornada, pois está começando a nevar com mais intensidade, e esse tempo poderá nos atrasar mais ainda.
Hevelin consentiu com a cabeça, e ambos recomeçaram suas caminhadas, dessa vez juntos, buscando alcançar um destino em comum. Desceram a encosta da montanha, deixando para trás diversos corpos inertes e sem vida, sendo levemente enterrados pela nevasca que caía.
Aquele bando de ladrões já não seria ameaça para mais ninguém.

3 comentários:

  1. Rpz, eletrizante essa descrição da luta. Adorei!

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  2. perai, não é o agente do armazem do deserto (eskeci o nome dele) q é amigo do skaild?

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