segunda-feira, 24 de maio de 2010

Capítulo XX

 Assim como a cidade militarizada localizada no Condado de Tundra Infame, no Continente de Midreth, o núcleo militar que ficava no meio do Deserto da Lamentação, em Huan, era uma cidade privilegiada pela sua localização estratégica, ficando praticamente no topo de um imenso platô no meio do caminho entre duas grandes e principais cidades do continente, Eska e Judin. Tanto a cidade do Deserto da Lamentação como a de Tundra Infame, e também a que ficava localizada na Floresta do Desespero, no Continente de Pastur, tinham sido projetadas e construídas com o único propósito de concentrar o poderio armamentista e o contigente de recrutas e soldados, sendo esses em número bem maior do que o de civis nessas cidades.
O brilho forte do sol cegou suas visões por alguns instantes, até que eles conseguiram enxergar o azul quase atordoante daquele céu límpido. Vohldrik e Lehvinia, enfim, estavam na cidade militar do Deserto da Lamentação. Ficaram bastante surpresos os dois, pois tinham acabado de sair no Portal de Teleporte que ficava praticamente na parte sul interna do enorme muro de pedra que cercava todo a área do prédio da Central das Forças Armadas do Condado do Deserto, um complexo arquitetônico construido no meio da cidade com pedras cujas tonalidades pareciam se confundir obrigatoriamente com as tonalidades presentes naquelas regiões áridas e desérticas. O prédio possuia uma imensa cúpula dourada na parte central rodeada por outras quatro abóbodas menores, estas também delimitadas por 2 miranetes dispostos nos lados leste e oeste da construção que podiam ser vistos de qualquer ponto da cidade.
Sob o forte forte, Vohldrik e Lehvinia caminharam pela trilha pavimentada por pedras irregulares em direção ao prédio. No centro daquele pátio adornado por diversas palmeiras destacava-se no chão o desenho de um imenso sol, feito a partir do mosaico das próprias pedras irregulares. Um pequeno grupo de Magos novatos passaram por ali correndo, enquanto comentavam a respeito de estarem atrasados para treinarem suas habilidades na área dos fantoches de treinamento. O Guerreiro e a Maga atravessaram todo o pátio, até perceberem a presença de alguém que parecia estar aguardando pela sua chegada. Era o Oficial da Guarda Markus, conhecido por todos como um dos duelistas chefe da Guarda Militar que protegia os domínios da Cental das Forças Armadas do Deserto da Lamentação. Vohldrik imediatamente o reconheceu o robusto e imenso amigo de longe, com suas vestes da Guarda em tons azuis e preto, e usando um tubarte azul celeste preso por uma apresentável faxia preta. Acenou de maneira contente para ele, gesto que foi imediatamente retribuído por Markus.
- Meu jovem amigo Vohldrik! – exclamou Markus, enquanto cumprimentava o guerreiro, que parecia ficar menor ainda perto do Oficial da Guarda. – Eu soube pelo Agente do Armazém que você foi à procura do Capitão Mark, e pela sua demora em retornar, temi que algo tivesse acontecido contigo. Afinal, você encontrou o Capitão Mark?
- Encontrei, Markus, e você nem imagina as aventuras que passei e por onde eu andei! – respondeu Vohldrik com uma visível empolgação própria de sua idade de garoto ainda. Lehvinia, em princípio, olhou intrigada para o jovem guerreiro, e em seguida soltou um sorriso típico de quem acabara de ficar desconcertada pela situação, já que ela ainda não tinha presenciado o jeito ameninado de Vohldrik desde que o conhecera.
- Pela empolgação, você deve ter passado por muitas coisas nos últimos dias, hein? – perguntou sorrindo Markus.
- Claro! -  respondeu Vohldrik com uma agitação típica de um garoto cheio de histórias para contar. – Seu primo vai adorar ouvir minhas aventuras e escrever tudo o que vou contar. – o jovem guerreiro coçava a nuca enquanto soltava um sorriso de puro convencimento.
- Eu tenho certeza absoluta de que ele vai adorar escrever suas aventuras. – disse Markus descontraidamente, enquanto virava-se para cumprimentar a Maga – Recruta Lehvinia, há quanto tempo não te vejo.
- Oi, Markus. – respondeu Lehvinia toda sorridente, enquanto acenava de maneira modesta para o Oficial da Guarda. – Faz um tempinho que não nos vemos realmente.
- Vocês já se conhecem? – indagou Vohldrik surpreso, enquanto olhava para os dois.
- Claro que nos conhecemos, Vohldrik. – respondeu Markus – Eu já auxiliei Lehvinia em algumas missões de treinamento em campo logo quando ela entrou para a Academia Militar aqui no Deserto da Lamentação.
- Algumas missões eu não teria completado sem a ajuda de Markus – comentou Lehvinia meio sem graça, enquanto percebia o sorriso de menino maroto presente no rosto de Vohldrik, que olhava para eles dois.
- E então? Depois vamos visitar seu primo para eu contar tudo para ele! – disse Vohldrik empolgado.
O Oficial da Guarda respondeu afirmativamente, e em seguida os conduziu pelos corredores e salões abobadados do prédio, enquanto escutava Vohldrik contar animadamente tudo o que tinha ocorrido com ele pelas montanhas geladas do Continente de Midreth e seus encontros perigosos com zumbis, gorilas e sombras mortais. Lehvinia contemplava realmente surpresa aquele inusitado comportamento de Vohldrik, que parecia deixar fluir seu lado juvenil sem qualquer pudor, um verdadeiro garoto ainda, contente por encontrar um grande amigo que não via fazia algum tempo.
- Markus, como você sabia que nós estávamos chegando aqui no Deserto da Lamentação? – indagou Lehvinia com um ar questionador.
- É mesmo, Markus – também perguntou Vohldrik – Se a gente não avisou que estava chegando, como você soube?
- O Capitão Mark nos alertou que vocês chegariam hoje nesse extao horário. – explicou Markus. – Então recebi orientação do Tenente-Duelista Novack para que assim que vocês chegassem, eu o informasse para que ele pudesse agendar uma reunião imediata com o Comandante Oficial Dunhike.
Ao ouvirem aquela explicação, tanto o Guerreiro como a maga fizeram expressões de puro espanto. Mais uma vez estavam sendo surpreendidos pelas atitudes misteriosas e inexplicáveis do Capitão Mark.
- Novamente o misterioso Capitão Mark. – comentou Lehvinia.
- Nada me tira da cabeça que ele seja um adivinho, ou um profeta. – opinou Vohldrik de maneira incisiva, tentando mostrar firmeza naquilo que dizia. Markus olhou para o pequeno e jovem amigo e soltou uma risada descontraída, achando graça do que Vohldrik acabava de dizer.
 - Vocês e esses seus jovens questionamentos. – disse o Oficial da Guarda. Alcançaram o 3º andar do prédio, e no hall central adornado por pilastras revestidas de desenhos em mosaicos sustentado um teto abobadado, encontraram o Tenente-Duelista Novack. Após rápidos cumprimentos militares, Novack agradeceu pelos serviços prestrados por Markus em conduzí-los imediatamente ao seu encontro, e então solicitou que Vohldrik e Lehvinia os acompanhasse até a sala do Comandante Oficial Dunhike. Antes, o jovem Guerreiro e a observadora Maga despediram-se do Oficial da Guarda, e Vohldrik cobrou a visita que fariam para o primo de Markus. Então seguiram por um extenso corredor até a entrada da sala do Comandante Oficial, que já os aguardava ansioso.
O Comandante Dunhike era um senhor de idade avançada e corpo esguio, rosto marcado pela passagem dos tempos e delineado por um bigode e cavanhaque totalmente grisalho. Vestia uma batina em tons bege e amarelo dourado, com detalhes de arabescos em marrom-escuro e preso na cintura uma fivela escura com detalhes em prata. Usava um imponente chapéu-turbante amarrado por uma faixa alaranjada e segurava constantemente na mão esquerda uma katana sempre guarnecida na bainha. Entretanto, sua aparência anciã não condizia com seus movimentos rápidos e determinados, e seus gestos firmes e joviais. Dunhike estava sentado em sua mesa, no meio de uma sala ampla, arejada e bem iluminada por enormes janelas, assinando diversos papéis e os entregando para dois secretários subalternos quando avistou a entrada do Tenente-Duelista Novack seguido por Vohldrik e Lehvinia. Logo levantou-se confiante e sorrindo, enquanto dirigia-se ágil em direção aos recém-chegados recrutas graduados.
- Fabuloso! Simplesmente fabuloso! – disse o Comandante Oficial de maneira contida. – Mais uma vez, o Capitão Mark foi preciso nas informações. – Dunhike aguardou a rápida saída dos subalternos e do Tenente-Duelista para então prosseguir com a reunião. – Estava aguardando a chegada de vocês com informações da missão para o qual foram designados pelo Capitão Mark.
- Senhor... – interrompeu Vohldrik, mostrando um ar cheio de questinamento – ...estamos confusos sobre o fato de nosso ponto de retorno ter sido bem aqui na Central.
- Na verdade, isso tem explicação direta com os cartões de teleporte entregues a vocês pelo Capitão Mark antes de iniciarem sua missão. Eles estavam programados com coordenadas de retorno justamente para o Portão de Teleporte localizado aqui no prédio da Central. – explicou Dunhike.
- Então o Capitão Mark já sabia que retornaríamos exatamente para a Central? – perguntou Lehvinia meio confusa.
- Exatamente, minha jovem Maga. – respondeu Dunhike prontamente – Inclusive ele me informou o dia e momento exatos em que vocês chegariam aqui. E como sempre, ele acertou novamente! – o Comandante Oficial demonstrava certa euforia quando falava do Capitão Mark. Mas imediatamente ele percebeu sua alegria exagerada naquele momento e rapidamente se aprumou, endireitando-se numa pose formal e contida. Pigarreou e então, mais contido, prosseguiu de maneira mais centrada com a reunião. – Muito bem, gostaria que vocês dois relatassem inicialmente como foi a missão de vocês e os resultados finais obtidos.
Dito isso, Lehvinia e Vohldrik, cada um a seu tempo, iniciaram um breve relato resumido do que ocorreu desde a partida deles da morada do Capitão Mark, explicando basicamente todos as situações ocorridas nas montanhas geladas de Midreth até o retorno deles na cidade do Deserto da Lamentação. O Comandante Oficial Dunhike ouviu tudo atentamente, sem perder qualquer detalhe do que tinha sido contado pelos dois. Após 25 minutos de explicações, Dunhike fez uma pausa silenciosa, enquanto alisava mansamente seu cavanhaque branco.
- Meus jovens, de certa forma, apesar de não terem encontrado de fato Kashu, todas as informações que foram trazidas por vocês estão sendo muito úteis para que possamos confirmar todo o envolvimento dele na série de roubos de mercadorias que tem ocorrido lá no Continente de Midreth. – explicou Dunhike calmamente.
- Desculpe, Comandante, mas como nossas informações podem ajudar nesse caso? – perguntou Vohldrik, curioso.
- Muito simples, meu jovem guerreiro. O local descrito como sendo um possível esconderijo de mercadorias roubadas tinha ligação direta com outras informações envolvendo Kashu. E a missão de vocês na verdade confirmou definitivamente tudo isso. No final das contas, a missão trouxe resultados positivos. – Dunhike fez uma nova pausa na conversa, como que avaliando as próximas palavras que diria. Então virou-se para os dois recrutas graduados e explicou o que viria pela frente para o Guerreiro e para a Maga.
- Creio que vocês não terão descanso, pois informo oficialmente que os dois já foram designados para uma nova missão.
Vohldrik e Lehvinia olharam para Dunhike surpresos, pois não esperavam realmente que fossem convocados para uma nova missão tão rapidamente. Permaneceram calados ouvindo as explicações do Comandante Oficial.
- Recruta Graduada Lehvinia. Seu histórico positivo de missões de busca e resgate de grupos desaparecidos tem chamado a atenção de seus superiores aqui em nossa Central, assim como de diversos outros Comandantes nas outras Centrais Militares nos diversos continentes. Devido ao seu sucesso nas missões anteriores, você foi indicada para uma nova missão de busca e resgate de um grupo de soldados que desapareceu nas montanhas geladas próximas ao condado de Tundra Infame. – Dunhike dirigiu-se à sua mesa e mexeu em uma pequena pilha de papéis, até achar uma pasta em específico, abrindo-a. – Segundo informações sobre o grupo, ele era formado por soldados daqui de nossa Central e da Central das Forças Armadas de Tundra Infame.
- Isso significa então que retornaremos para Midreth? – questionou Lehvinia.
- Imediatamente. Tanto você como Vohldrik foram designados para esta missão. – confirmou Dunhike – Assim que vocês chegarem no Condado de Tundra Infame, sigam para a Central das Forças Armadas e obtenham novas instruções do Comandante Henkoff. Acredito que mais alguém irá acompanhá-los nesta missão.
- Mais um recruta graduado? Quem seria? – indagou Vohldrik.
- Essa informação somente o Comandante Henkoff poderá dar a vocês. – respondeu Dunhike de forma meio enigmática. - Agora podem ir, estão dispensados.

Começava a nevar discretamente quando Mehldrik parou diante da Loja de Simon. Intimamente sentia-se chateado por saber que não tinha boas notícias para o amigo, e isso o fez hesitar um pouco em entrar na loja. Pensativo, o Guardião não havia reparado a presença de um jovem garoto sentado sobre alguns caixotes de madeira empilhados do lado de fora da loja, próximos à entrada. Apesar de seus 13 anos de idade, o garoto parecia muito mais interessado na leitura de um estranho livro que tinha em suas mãos do que estar se divertindo com os outros meninos que passavam correndo pela rua. Percebeu que começava a nevar e se preparava para entrar na loja quando avistou o Guardião Arcano.
- Mehldrik? – o garoto fez uma expressão de puro espanto.
- Não tinha visto você aí sentado. Seu avô está na loja? – perguntou.
- Sim, está lá dentro no depósito. Quer que eu chame ele?
- Agradeceria se você fizesse isso.
Os dois entraram na loja, cujo interior era incrivelmente forrado por estantes até o teto, com centenas de tipos de elmos, grevas e outras partes de armaduras feitas com diversos tipos de materiais como aço negro e titânio. O garoto seguiu direto para os fundos da loja, passando ao lado de um poço circular de meio metro de altura em cujo interior metais líquidos derretidos queimavam em chamas incandescentes que iluminavam diversas ferramentas de ferreiro encostadas numa parede próxima a uma porta. Foi por essa porta que o garoto entrou, descendo por uma escadaria que sumia numa penumbra. Mehldrik apenas observou o garoto sumir pela porta, e silencioso aguardou que alguém retornasse. Observava algumas peças de armaduras numa estante próxima quando uma voz conhecida quebrou aquele silêncio do recinto e o trouxe de volta de seus pensamentos.
- Meu amigo Mehldrik! Enfim você retornou! – bradou Simon, abrindo os braços, mostrando toda sua satisfação ao rever o amigo Guardião.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Capitulo XIX

Mehldrik caminhava pensativo, lembrando daquela discussão que Hevelin havia propiciado entre eles dois, achando completamente desnecessário tudo aquilo que havia ocorrido no dia anterior. Envolvido em seus pensamentos, avistou uma placa de madeira sustentada por uma firme haste de aço que começava a balançar ao sabor do vento, dando sinal de que o tempo poderia fechar a qualquer momento. Naquela placa podia ser lida a inscrição “Refúgio de Keller”, o que de fato era uma verdade, já que aquele local era uma aconchegante taberna onde as pessoas costumavam parar e passar alguns momentos conversando em um ambiente bem aquecido por uma imensa lareira, enquanto degustavam bebidas quentes e saborosamente exóticas servidas pela Alquimista Keller, proprietária do lugar. Mehldrik ouvira falar dessa taberna, bem como da boa reputação de sua dona, mas nunca havia parado no local. Estava indo para a Loja do amigo Simon, e pelo caminho passou diante do tal “Refúgio de Keller”. Olhou para cima, enxergando a placa que balançava, parando bruscamente, como que surpreso por encontrar aquela taberna naquele momento diante de si. Começava a nevar timidamente, e o Guardião olhou pela vidraça das janelas de madeira com atenção tentando visualizar o ambiente lá dentro.  Viu algumas pessoas sentadas em bancos, também de madeira bem trabalhada e extremamente fortes, bebendo e conversando próximas à lareira. Mehldrik então decidiu entrar para beber algo antes de encontrar-se com Simon.
Empurrou a porta-balcão e incrivelmente sentiu a diferença de temperatura. Apesar do tempo frio e da neve lá fora, a taberna mantinha-se incrivelmente aquecida, o que realmente poderia explicar o motivo pelo qual o “Refúgio de Keller” vivia sempre cheio e movimentado. Mehldrik escolheu uma mesa qualquer e acomodou-se, enquanto observava os estandartes de tecidos azuis com detalhes de desenhos em espirais e círculos alquímicos pendurados, decorando o ambiente em alguns cantos. Não demorou muito para uma mulher calmamente aproximar-se dele. Keller era uma jovem alta e magra compondo uma beleza singularmente sinuosa e esbelta. Seus cabelos eram de um azul quase prateado e curtos na altura da nuca, escondidos por um gorro-chapéu marrom escuro de lã. Vestia trajes que combinavam praticidade e conforto, como um colete de couro cru marrom escuro que cobria seu corpo dos ombros até a altura de seus joelhos e a mantinha bem aquecida, além de luvas que cobriam seus braços, e as botas que cobriam suas pernas até a altura da canela, ambos feitos também de couro cru, num cinza azulado. Keller usava também uma fivela de metal prendendo duas espécies de aventais que cobriam lateralmente suas pernas.
- Olá, seja bem vindo. – disse Keller com um sorriso jovial. – Eu sou Keller, proprietária desse caloroso refúgio.
- Olá, eu sou Mehldrik. – respondeu o Guardião, economizando nas palavras.
– Não lembro de ter visto você por aqui antes. – Keller puxava conversa, demonstrando ser uma pessoa comunicativa e expansiva para fazer novas amizades.
- É, eu nunca estive aqui antes. Estava passando e decidi entrar para beber algo.
- Então você veio ao lugar certo. Eu sirvo aqui diversos tipos de bebidas e ainda preparo misturas exclusivas e exóticas. – enquanto falava sobre as incríveis bebidas alquímicas que sua taberna oferecia, Keller gesticulava de uma forma cativante e envolvente. Seus movimentos não eram bruscos, e sempre abria os braços como que demonstrando toda sua simpatia e receptividade com os seus clientes. Em determinados momentos, colocava uma mão na cintura enquanto a outra apontava o dedo para o ar, balançando levemente, enquanto ela sorria em sua direção contando as maravilhas milagrosas que suas bebidas provocavam naqueles que as degustavam. – Você não imagina o que está perdendo então, rapaz.  Vou preparar algo exclusivo que vai revigorar sua força interior. Espere que já volto.
Mehldrik realmente estava se sentindo bem naquele ambiente e simpatizou-se com a conversa descontraída de Keller que fazia qualquer um acreditar que já a conhecia há muito tempo, como uma amizade antiga. Mehldrik acabara de ter essa mesma sensação, e enquanto Keller se afastava para ir preparar sua bebida, ele soltou um sorriso sutil e balançou a cabeça levemente. Não demorou muito e Keller voltava trazendo numa bandeja uma caneca com uma bebida quente e amarronzada. Mehldrik recebeu a caneca e sentiu o aroma convidativo, para em seguida tomar o primeiro gole.
- Uma delícia revigorante, não é? – perguntou sorridente Keller, observando atentamente a reação do Guardião.
Mehldrik degustou o sabor único daquela bebida e concordou afirmativamente, chegando a fazer um certa expressão de espanto pois instantâneamente sentiu-se com as energias revitalizadas por completo, como se naquele exato momento pudesse sair andando pelas montanhas durante dias sem se cansar.
- Algumas bebidas que faço são energéticas, outras revitalizantes, e tem algumas especiais que revigoram completamente sua força arcana interior. – explicou Keller, sempre expansiva em seus gestos calmos. – Não é algo maravilhoso?
- Sim. – respondeu Mehldrik, percebendo que a Alquimista conversava bastante, bem mais do que ele. – Sua bebida é muito boa.
- Desculpe perguntar, mas qual é seu nome mesmo? – Keller fez um trejeito de quem estava meio sem graça pela pergunta. Colocou uma mão na cintura e a outra coçava a nuca discretamente.
- Mehldrik. – respondeu o Guardião enquanto tomava outro gole da bebida.
- Não repare, mas eu sou assim meio esquecida das coisas, não consigo guardar nomes de pessoas e lugares. Eu desconfio que meu cérebro está congelando por conta do clima gelado, e está me fazendo esquecer das coisas. – Keller sorriu e prosseguiu falando – Mas mesmo assim eu adoro Tundra Infame, amo todo esse lugar coberto de neve. Adoro essa movimentação de pessoas indo e vindo, adoro criar bebidas diferentes para todos que aqui aparecem na taberna.
- As pessoas devem gostar muito de suas bebidas. – comentou Mehldrik.
- Muito! Elas adoram muito!
- Dá para perceber pela movimentação aqui. – disse Mehldrik, enquanto olhava o ambiente.
- Mas nem sempre foi assim. – Keller soltou um suspiro, cruzando os braços logo em seguida – No início eu era pouco conhecida, e não havia muitos clientes para quem servir meus elixires, então já dá para imaginar como o era o movimento aqui. Muito parado. Naquela época eu quase nem vivia ocupada com o estabelecimento como hoje.
A Alquimista fez uma pausa brevíssima, como que tentando lembrar-se de algo ou alguém.
- Naquela época até tive tempo para atender a um pedido de um amigo meu.
- Que pedido? – perguntou Mehldrik.
- Esse meu amigo... Como era mesmo o nome dele?... Bom, não importa. Esse meu amigo trouxe um garoto aqui e me pediu para que eu cuidasse dele. Coitado, o menino tinha perdido os pais dele quando monstros invadiram a vila onde eles moravam. Qual era mesmo o nome daquele garoto?... – Keller fez nova pausa, colocando a mão no queixo. – Ah, sim, agora me lembro. Seu nome era Patren. Graças aos céus, não esqueci o nome dele. – A Alquimista sorriu.
- Você cuidou do garoto?
- Cuidei durante algum tempo, era um bom garoto, educado e prestativo. Senti muito quando ele teve que partir novamente. Uma vez recebi uma carta dele onde ele dizia que tinha feitos muitos amigos em sua jornada e que estava feliz. Uma pena eu não saber hoje onde ele está. – Keller esboçou um leve ar pensativo ao relembrar do jovem garoto que havia cuidado.
- Provavelmente hoje ele deve estar bem e agradecido por você ter cuidado dele por algum tempo. – disse Mehldrik, tomando o último gole da bebida. Aquele comentário dele trouxe a Alquimista de volta de suas recordações. Ela soltou um sorriso tímido.
- Peço novamente desculpas... – Keller novamente havia se esquecido do nome do Guardião e disfarçou a pausa rápida na frase até lembrar como ele se chamava. – ...Mehldrik! Boas lembranças me invadiram agora.
- Não precisa se desculpar. Recordações são criadas para serem lembradas sempre que pudermos. – Mehldrik sorriu levemente, e se levantou. – Sua bebida estava ótima, e a conversa também. Gostaria de ficar mais  um pouco, mas tenho que ir.
- Não seja por isso. Sempre que quiser, pode voltar, você será sempre bem vindo.
Mehldrik pagou pela bebida, despediu-se de Keller, e prometeu que voltaria mais vezes ao “Refúgio”. Logo em seguida saiu com passos rápidos para se encontrar com o Amigo Simon.

Distante dali, na Central do Comando das Forças Armadas de Tundra Infame, na sala do Comandante Oficial Henkoff, Hevelin terminava de relatar como havia sido sua missão de confirmar o esconderijo secreto da Guilda dos Ladrões. Após ouvir atentamente, Henkoff fez um ar de aprovação, satisfeito pelo fato de ter escolhido a Duelista para realizar tal missão. Parabenizou Hevelin para logo em seguida tecer seus comentários.
- Sua coragem e determinação em alcançar o objetivo da missão nos trouxe resultados positivos. Com a confirmação do esconderijo da Guilda dos Ladrões, vou deliberar uma tropa de Resgate até a montanha com o objetivo de procurar sobreviventes no soterramento.
- Acredito que os ladrões tenham sobrevivido e estejam ainda presos na mina. – explicou Hevelin.
- Nesse caso, se houver sobreviventes, todos serão resgatados e presos. – afirmou o Comandante, levantando-se de sua cadeira. Caminhou calmamente até a lareira e ficou um breve tempo diante do fogo que crepitava. Logo acima, havia um enorme quadro com o mapa detalhado do Continente de Midreth. Henkoff virou-se então para Hevelin, que permanecia de pé em posição de sentido.
- Então você encontrou o Guardião Mehldrik em missão nas montanhas?
- Sim, Comandante. Ele estava em missão de busca e resgate de alguém chamado Skaild. Porém, o mesmo acabou escapando para destino ignorado.
- Nesse caso, meu velho amigo Simon não receberá boas notícias de Mehldrik. Uma pena, pois eu garanti a ele que Skaild seria trazido são e salvo para Tundra.
Hevelin ficou surpresa ao ouvir o que o Comandante dizia naquele momento.
- O senhor sabia dessa missão de Mehldrik desde o início então?
- De fato, eu sabia. Simon me procurou solicitando ajuda do exército para interceder em favor de Skaild. Então eu orientei ele para que procurasse Mehldrik e destinasse a missão para ele. – Henkoff silenciou repentinamente, virou-se e voltou para sua mesa. Pegou uma pasta e por alguns instantes observou os documentos em suas mãos. Sem tirar os olhos dos papéis, informou para Hevelin que ela estava convocada imediatamente para uma nova missão.
- Recruta Graduada Hevelin, foi deliberada hoje pela manhã para você uma nova missão. Você deverá partir imediatamente com o grupo que está de saída. – O Comandante Oficial retirou de dentro da pasta um cartão de teletransporte e o entregou para a Duelista, ao mesmo tempo em que explicava para ela que todos os detalhes de sua missão seriam repassados pelos membros do grupo que faria parte.
- E quem devo procurar? – indagou Hevelin.
- Você deve procurar os Recrutas Graduados Amarantys e Drakonyh. Sua nova missão será com eles.
Hevelin ficou imóvel e com um leve ar de espanto. Ela não estava acreditando no que acabara de ouvir.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Capitulo XVIII

 Drakonyh e Amarantys estavam muito bem arrumados vestindo seus fardões de recrutas graduados, enquanto aguardavam no extenso corredor iluminado pela claridade tímida daquele dia que atravessava as janelas daquele andar que dava acesso à sala do Instrutor Oficial O’Conner. De um lado, sentada em um banco de madeira de três lugares, Amarantys permanecia em silêncio, meio pensativa. Do outro lado, Drakonyh estava em pé, recostado mansamente na parede, onde apoiava levemente um de seus pés. De braços cruzados, seu rosto deixava transparecer um fisionomia relaxada, e quem olhava para ele naquele momento, poderia ter a impressão de que soltava um leve sorriso irônico. Ele olhou para a Arqueira, e ela então percebeu que estava sendo observada pelo Espadachim Arcano.
- Ainda preocupada com aquele pessoal que encontramos nas montanhas, não é? – perguntou Drakonyh, com um leve sorriso de canto de boca. Sorria porque sabia que sua própria pergunta era redundante, pois ele sabia perfeitamente da resposta da Arqueira.
- Sim, você sabe muito bem disso – respondeu Amarantys, baixando o olhar para o chão.  – Queria ter certeza de que eles estão bem, se eles conseguiram chegar aqui na cidade sãos e salvos.
- Eu já disse para você não se preocupar. Quando menos esperar, a gente acaba se esbarrando com eles por aí. Você se preocupa demais.
- E você é despreocupado demais. – respondeu secamente Amarantys, meio chateada por constatar que ela era realmente a única a se preocupar com o grupo deixado para trás. – Mesmo já conhecendo você há algum tempo, não consigo entender como você consegue ser assim, sempre tão relaxado.
- Não se ofenda com o que vou dizer... – Drakonyh simulou um ar pensativo, mas na verdade demonstrava apenas olhar para o tempo de maneira irônica.
- Eu suporto, vá em frente – disse Amarantys, aproveitando aqueles segundos de silêncio no diálogo.
- Preocupação é para os fracos de espírito.
- Fracos de espírito? – Amarantys conteve o tom de voz, e ficou indignada com o comentário do amigo Espadachim. Levantou-se e caminhou em direção de Drakonyh, cerrou os olhos de forma ameaçadora em sua direção, encarando-o de perto. – Drakonyh, você me conhece muito bem e sabe que eu costumo me preocupar com as pessoas. Quer dizer que só porque eu penso assim, eu posso me considerar uma pessoa fraca de espírito?
Drakonyh manteve-se impassível diante dela, e continuava com aquele sorriso de canto de boca insistente.
- Não disse que você é fraca. Eu disse que preocupação é para os fracos de espírito. Quem se preocupa demais, perde o foco de seus objetivos.
- Pois fique sabendo que eu não perco o foco de meus objetivos – retrucou contrariada Amarantys, cruzando os braços.
- Novamente, eu não falei de você. – Drakonyh percebeu que Amarantys estava ficando realmente chateada com toda aquela conversa e procurou dar um fim à discussão. – Amara, procure relaxar – respondeu sorrindo o Espadachim. – Eu apenas disse aquela frase porque penso na vida sempre como um desafio que superamos quando queremos.
Um breve silêncio pairou no ar entre os dois, enquanto alguns outros recrutas graduados passavam por ali pelo corredor. Logo em seguida, Drakonyh retomou a conversa, dessa vez mudando um pouco de assunto.
- O que você precisa, Amarantys, é manter seu foco, pois eu tenho certeza que o Intrutor Oficial nos chamou aqui hoje de manhã para nos convocar para alguma outra missão.
- Eu sei disso... Provavelmente outra missão por essas montanhas geladas de Tundra Infame. – disse Amarantys, aparentando estar meio contrariada por considerar a possibilidade de terem que enfrentar o clima gelado das montanhas.
Drakonyh, sempre com um sorriso sutil na boca, descansou suas mãos nos bolsos de seu fardão e caminhou calmamente em direção às janelas que ficavam um pouco acima da altura de seus ombros e deu uma olhada para o céu nublado.
- Até que hoje o dia parece estar mais aberto. Pelo menos hoje mais cedo eu vi o sol aparecer rapidamente por entre as nuvens.
Nesse momento, a porta da sala do Instrutor Oficial O’Conner se abriu, e os dois recrutas graduados que esperavam já há algum tempo serem chamado viram a figura serena do Tenente-Coronel Walkner surgir diante deles.
- Recrutas Graduados Amarantys e Drakonyh, podem dirigir-se à sala do Instrutor Oficial O’Conner. Ele aguarda os dois para a reunião.
Sem muita cerimônia, a Arqueira e o Espadachim entraram, passaram por uma breve ante-sala de secretariado discreta, que na verdade era a sala do Tenente-Coronel Walkner, para então adentrarem na sala de O’Conner. Após as devidas reverências militares, Amarantys e Drakonyh permaneceram de pé, enquanto O’Conner iniciava a reunião com breves explicações acerca do resultado do exame feito pelos pesquisadores de Tundra Infame com o material do sangue de Zumbi recolhido por eles. O instrutor também explanou brevemente sobre a praga desconhecida que estava atacando os habitantes da região,  deixando a todos em estado de alerta, e da deficiência dos cientistas de Tundra Infame em conseguir dar seguimento às pesquisas com a amostra, cujos resultados pareciam ter ligação direta com a doença. Ao final, deliberou oficialmente a missão dos dois recrutas e seus objetivos estabelecidos.
- Levem a amostra do sangue de Zumbi que vocês conseguiram coletar para o pesquisador Heill. Estou liberando para os dois estes cartões de teletransporte. – O’Conner estendeu os cartões para Drakonyh enquanto continuava as explicações – Vocês seguirão para o Portal localizado nos arredores da cidade. Utilizem os cartões para ter acesso, e quando estiverem lá dentro, procurem pela 4ª Porta de Teleporte, aquela que não terá nenhum brasão de cidade. Será essa porta que os levará diretamente para as coordenadas programadas nos seus cartões, um ponto localizado próximo aos subterrâneos da Torre dos Sábios. A partir dessa localização, vocês precisarão ter cuidado.
- Como assim cuidado? – indagou Amarantys, fazendo uma discreta cara de espanto – A missão não é encontrar esse cientista Heill e entregar a amostra para ele?
- Sim... Mas vocês terão certa dificuldade em chegar até Heill.
- Hmm. Já imagino que tipo de dificuldade seja. – disse Drakonyh olhando para a Arqueira, sorrindo enquanto esfregava as mãos num movimento que demonstrava satisfação pelo que o Instrutor Oficial havia dito. Amarantys sabia muito bem o que aquele sorriso do Espadachim queria dizer. – Teremos ação! – o rosto de Drakonyh era pura euforia contida.
- Não iremos teleportar diretamente no laboratório de Heill? – perguntou Amarantys, fazendo um ar de contrariada.
- Não. Mesmo estando cientes da eficiência e confiabilidade do sistema de Teletransportes dos Portais de Nevareth, por medida de segurança, alguns pontos de teleporte não ficam diretamente em seus destinos finais. Para a própria segurança de Heill e pelo incrível valor de suas pesquisas, o teleporte que conduz até ele fica nos arredores do local onde ele montou as instalações de seu laboratório. Então vocês podem deduzir o que encontrarão pela frente.
- Ação! – disse Drakonyh novamente, olhando para a Arqueira, só que dessa vez em tom de sussurro e com um sorriso largo. Amarantys esboçou uma expressão de indiferença antes que O’Conner os dispensasse para iniciarem sua jornada.

A Arqueira e o Espadachim se preparavam mais uma vez para sair em campo para uma nova missão, e nem sequer tinham idéia de que todos os outros jovens recrutas graduados que eles encontraram nas montanhas de Tundra Infame conseguiram chegar em seus destinos sãos e salvos. Mal sabiam eles que ali no mesmo prédio da Central das Forças Armadas, no andar logo acima, naquela mesma manhã, Hevelin aguardava sua hora para se encontrar com o Comandante Oficial Henkoff e relatar como foi sua jornada na missão de confirmar a localização do esconderijo que a Guilda dos Ladrões estava usando para esconder as mercadorias roubadas dos comerciantes daquela região. Também trajava seu fardão de recruta graduado e esperava sozinha e silenciosa no amplo corredor que dava acesso à sala do Comandante Oficial. Passou aqueles breves minutos relembrando do retorno, no dia anterior, à cidade, e da discussão que teve com Mehldrik pouco antes dele seguir em direção à loja de Simon, antigo comerciante conhecido por todos, o respeitável fabricante e vendedor de armaduras e acessórios para guerreiros e guardiões que pediu ajuda ao jovem Guardião para encontrar o amigo Skaild. Estavam se despedindo, quando Hevelin tentou animar Mehldrik, dizendo que ele fez todo o possível para reencontrar Skaild e trazer ele de volta.
- Você fez o mais difícil, que foi resgatar ele daquela mina. – explicava Hevelin.
- Ele deveria estar comigo agora aqui. – resmungou Mehldrik, sempre mostrando-se contrariado quando aquele assunto vinha à tona. – Ele me enganou, o maldito me enganou e agora não faço idéia de onde ele esteja.
- Sabemos que com a Guild dos Ladrões ele não está mais.
- Começo a achar que não foi uma boa idéia a gente se unir... – disse Mehldrik, fazendo um ar pensativo, enquanto olhava para as ruas da cidade e seus habitantes andando de um lado para o outro. Hevelin franziu a testa e fez um ar de espanto, com uma clara expressão de que foi pega de surpresa por aquela afirmação.
- Como assim? – questionou a Duelista.
- Não sei... Quando a gente se encontrou nas montanhas, talvez tivesse sido melhor cada um seguir seu caminho. – Mehldrik agora olhava para Hevelin. – Talvez se a gente tivesse feito isso, tudo seria diferente agora...
- Quer dizer que você acha que a gente ter se unido pode ter sido um erro? – Hevelin continuava um pouco confusa, e mesmo assim tentava entender o que Mehldrik queria dizer a ela.
- Acho que sim. Se eu tivesse seguido meu caminho e você o seu...
- Se cada um tivesse seguido seu caminho... – interrompeu Hevelin - ...ainda assim não dá para você saber o que aconteceria realmente. Você poderia ter conseguido trazer Skaild ou não.
- E você poderia ter encontrado o esconderijo da guild ou não. – disse Mehldrik, buscando completar a lista de resultados possíveis. – Talvez você ter me encontrado tenha facilitado a você completar sua missão.
Hevelin franziu novamente a testa, dessa vez fazendo uma expressão de  irritação pelo que acabava de ouvir do Guardião.
- Como assim facilitado? – a voz da Duelista emanava um tom desafiador. – Você quer dizer que, sem você, eu não teria conseguido completar a missão?
- Você se lembra de quem foi a idéia da gente se unir? – retrucou Mehldrik – A idéia foi sua. Você pode ter lançado essa idéia já considerando a possibilidade de que poderia não ter capacidade de cumprir com a missão.
- O que? – Hevelin subiu o tom de sua voz. Agora mostrava-se visivelmente irritada com a afirmação feita pelo Guardião e o encarava de muito perto. – Então você sempre acreditou esse tempo todo que eu nunca seria capaz de cumprir com minha missão??
- Eu não disse isso. – respondeu Mehldrik, sentindo-se incomodado com aquela discussão entre as pessoas que passavam pela rua.
- Não disse porque não teve coragem esse tempo todo de dizer na minha cara!! – Hevelin demonstrava, pela segunda vez diante de Mehldrik, que não admitia de forma nenhuma que questionassem a capacidade dela em conseguir alcançar os objetivos que lhe fossem estabelecidos. Seu temperamento forte e sua maneira meio grossa e ignorante de discutir opiniões estava novamente à tona naquele momento. Mehldrik procurou intervir, tentando acalmá-la.
- Hevelin, acalme-se! – disse o Guardião de forma contida. – Você está começando a chamar a atenção...
- Para o inferno você e quem quiser ir junto! – esbravejou a Duelista – Eu já te disse que não admito que ninguém duvide de minha capacidade! – Hevelin ficou face a face com Mehldrik, e soltou uma última frase antes de dar as costas para o Guardião e seguir com passos firmes em direção ao prédio do Comando Central das Forças Armadas de Tundra Infame. – Pelo menos, eu tenho coragem suficiente para dizer tudo o que penso.
Absorvida nas lembranças ocorridas no dia anterior, Hevelin foi bruscamente trazida de volta à realidade daquele momento pela voz do Major Dublint chamando pelo seu nome. Ele a convocava para entrar na sala do Comandante Oficial Henkoff.